Andei caladinha por um tempo é verdade. Ando observando as pessoas. Eu, quietinha no meu canto, só observando o comportamento humano e a fogueira das vaidades.
É que ser diferente, antenado e novo, muitas vezes incomoda. Não dá pra dar mole pra Kojak, não é?
Então vamos ao mini-flashback!
Ano de 1994, eu começo a trabalhar na primeira empresa jornalística da minha vida como Assistente Administrativo. Numa época em q não existia mp3, não existia celular e o walkman, se atirado de uma certa distância era capaz de matar o infeliz que estivesse passando na direção.
Eu morava muuuito muuuito longe. Não tão longe quanto em Campo Grande, mas semelhante era a distância.
Minha fama naquele lugar infecto era de atrasada, maluca, piranha e dorminhoca.
Tinha uma série de coisas a consertar em mim. Tinha um péssimo relacionamento com minha chefe direta, que na minha opinião era alguém grossa, estúpida e que se deixava manipular pelo gerente. Um magrelo, babaca, da voz fina, que se trepasse com a mulher dele era capaz de se quebrar ao meio.
Um dia, eu fiquei sabendo que quase todos que me sorriam pela frente, falavam muuuito mal de mim pelas costas e eu, ao invés de tentar me defender, como vejo muitos fazendo por aí, ou ainda, guardar rancor de quem me massacrava (até porque eu não sabia quem eram eles), resolvi conversar com quem me conhecia (e me julgava) para saber o porquê daquilo tudo. Claro, nada disso foi num estalo. Não foi do dia pra noite, de qualquer modo, eu levei 2 anos e 6 meses naquela empresa, mas a mudança também não demorou 1 ano e meio para acontecer!
Eu observei que logo que cheguei lá e logo que me acostumei com o ambiente de trabalho, achei que todos (os mesmo q zoavam o chefe junto comigo), absolutamente todos eram meus amigos. Achei que todos por falarem besteira, tinham a cabeça aberta e ao ser questionada sobre minha vida pessoal, eu inocentemente contava causos, inclusive que tinha 3 namorados (que se juntasse os 3 não dava 1 e q desses 3, um voltara para América do Norte). Eu não comia ninguém. Mas tinha fama de puta. Claro, um dia um anjo bom me falou com delicadeza que parte do meu sofrimento se devia a minha postura. Em outras palavras, ela disse: feche a boca! E eu fechei. Nada de assuntos pessoais.
Eventualmente eu esqueço a minha própria regra, no entanto, as coisas se revelam e eu não cometo o mesmo erro duas vezes.
Descobri que chegar atrasada não era necessariamente o problema. O problema em si, era q eu não pedia desculpas ou não me justificava perante minha chefe direta. Aquela q eu achava escrota. Descobri isso da pior maneira possível. Um dia, ela não quis conversar comigo me ignorando no banheiro. Eu fui atrás dela e fomos lavando a roupa suja do corredor até a sala. Quem via, pensava que a porrada ia mesmo estancar.
Felizmente, eu pude observar coisas a serem corrigidas no meu jeito que incomodavam a ela profundamente e fazia com que ela não me respeitasse. Da mesma forma, que eu a fiz entender que o jeito com q ela vinha me tratando estava me fazendo mal e pior, não resolveria as coisas.
Ambas mudamos. Viramos as melhores amigas até o dia que saí de lá.
A fama de maluca eu infelizmente ainda carrego. Neguinho confunde maluquice com extroversão. Eu sou alto astral, extrovertida e não raro, falo o que penso. Adoro brincar, me divertir e fazer as pessoas rirem, por isso a fama. Nunca liguei pra isso. Só quando me atrapalhava profissionalmente. Então era o momento de pôr o pé no freio.
Dorminhoca é porque eu morava longe e mesmo sem saber, sofria de hipotireoidismo. Ainda sofro, mas tomo medicação. Naquela época, aonde quer que eu encostasse, eu dormia. Era um sono incontrolável. Podia ser após o almoço no sofá da sala de espera dos operadores, na ante sala do escritório em que eu trabalhava, na recepção de qualquer lugar... então, tinha essa fama.
Eu consegui reverter a situação e mudar minha imagem naquele lugar. Mas não foi tentando convencer ninguém de que eu tinha mudado verbalmente. Foi apenas com o meu trabalho. Eu aprendi o serviço. Eu me tornei vigilante quando pessoas que não tinham respeito por mim estavam próximos. Eu não dava mole de ler revista durante o expediente - coisa q uma amiga fazia, mas q era tão foda e competente, q ela podia se dar o direito - eu não. Eu estava chegando, eu estava me firmando ainda. Não podia, não devia e não fazia!
Passei por 3 setores diferentes e as coisas melhoraram quando saí do meu setor de origem. Fui mostrando minha competência ali e funcionou como um disseminador da boa nova. Àqueles q tinham uma visão negativa a meu respeito, começaram a divulgar q não era nada do que diziam e assim foi. Quando voltei para o meu setor de origem, todos me respeitavam, inclusive minha ex-chefe direta que voltara a ser minha chefe direta.
Por q eu comecei a contar tudo isso? Porque vejo acontecer com uma pessoa que conheço daqui do tronco.
No caso dela, ninguém fala diretamente pra ela. Ela também não tem fama de piranha, nem de atrasada, muito menos de dorminhoca ou maluca. Não.
Ela tem fama de fraca, de desatenta, de alguém que não se cuida, que vive na internet seja pelo celular, seja pelo computador mesmo, que não liga para aparência, que não tem postura para trabalhar numa multinacional do ramo de petróleo e gás... tudo isso falam dela e todos que falam, dizem exatamente a mesma coisa sempre. São eles os errados, eu me pergunto?
E mesmo se alguns poucos amigos tentam falar pra ela q tudo se deve a forma como ela se apresenta. Ela não liga. Talvez não ligue, porque sua chefe direta ainda não tenha se pronunciado (o meu gerente magrelo naquela época, também nunca havia se pronunciado).
O problema, é que as pessoas são extremamente ardilosas e combatem o diferente como um virus.
Essa minha conhecida, adora um celular, adora uma internet, adora uma música no ouvido e apesar de estar se sentindo mais segura, está ficando extremamente queimada ao redor. Tanto, que outras gerências que poderiam olhá-la com bons olhos, estão sendo afetados de maneira negativa.
A coisa se alastra e a pessoa simplesmente não entende, retruca... ou diz que vai mudar, mas não muda significativamente. E a fama se instala.
Eu queria muuuito mudar toda essa situação. Eu queria q ela mudasse agora.
Mas que mudasse a forma de se vestir, que cuidasse da aparência, que fosse mais profissional nas atitudes, que não desse motivo... mas sinto que ela tem que sofrer de verdade para crer que tudo o q já foi dito, não é brincadeira e que pode ter consequências desagradáveis para ela. Só para ela. É a vida dela porra!
Eu sei que se ela olhar ao redor e ver como as outras na mesma posição se vestem, como se apresentam, como se portam... se ela atrelar isso em sua apresentação profissional, as pessoas talvez deixem de falar do seu desleixo consigo mesma. Porque é muito fácil conseguir uma fama, desfazê-la é que é a grande pedreira.
Não sou mágica. Não sou sua parente, nem tenho o poder de fazê-la entender o quanto ela tem de mudar para que as pessoas a olhem com outros olhos. Postura sabe? Não é qualquer coisa.
Eu não aguento mais ouvir. Eu além de não aguentar, não queria mais que as pessoas viessem falar comigo e elas vem. Sempre vem.
Estou cansada, estou cheia disso e nada posso fazer. Eu não sou ela.
E ando calada quando vejo lamentos por aí, quando leio esses lamentos estéreis sem mudança de atitude.
Muito cansada.
14 comentários:
Ai ai, as vezes precisamos mesmo cair para então levantar. Mas essa postura das pessoas de n falar, ou ainda pior de falar nas costas sempre é tão triste. Ngm para dar um toque para avisar, ou a gente simplesmente não quer acreditar, achamos que é exagero ou que as outras pessoas estão falando porque querem ser exatamente como nós somos.
Enfim, que bom que vc amadureceu!
Espero amadurecer ainda mais e que essa pessoa a quem vc se refere receba um empurrãozinho e possa começar o processo de amadurecimento, pelo menos!
Beijos saltitantes com saudades de todos aí!
Bom restinho de semana
Bem:
Cair pra levantar-se depois e somente ai, aprender
às vezes é tudo o que se tem: seu mundo, suas conviccções, seus interesses, dependem da importância que se atribuem a eles.
Mas, quando seu mundo particular invade o seu mundo corporativo, acende-se o sinal de alerta. Talvez ainda falte aquele click.
talvez seja falta de amadurecimento.
Ou ainda , uma boa sacudida.
De qualquer forma, aguarde. Mesmo que dirijam-se a você , mesmo que os comentarios aborreçam ou torrem sua paciência, não diga nada. As pessoas tem por hábito criticas e às vezes julgamentos. nem sempre os julgamentos são pertinenetes ou não e quando são, o melhor a fazer é silenciar. Até perceberem que você não é um tribunal e que a opinião das pessoas como um todo,não endossam os atos de quem quer que seja. Não corroborar com uma idéia, mesmo que você partilhe dela é o melhor em muitos casos...
A humanidae julga: justa ou injustamente . Talvez seja melhor dar uma de Pilatos e lavar as mãos.
Certamente, tal como ele, você fez a sua parte.
Morena: Obrigada pelo seu comentário cheio de humildade. Tem bons ensinamentos embutidos nele.
Má, preciso desesperadamente lavar as mãos. Estou cansada, decepcionada e de saco cheio. Minha boa intenção em ajudar já deu. E o inferno tá cheio de boa intenção né?
Engraçadinha, acho muito chato fofocas no trabalho. Não é justo as pessoas despejarem o veneno pra cima de vc sobre outra pessoa que a maioria se sente incomodada.
Muitas vezes a pessoa precisa quebrar a cara para amadurecer, evoluir do que só ouvir alguém dando toques como se portar. Dependendo da reação da pessoa que ouve, pode até se sentir revoltada e não admitir que comete tal comportamento inadequado no ambiente de trabalho. Abstenha-se!
Big Beijos
Cara... exatamente igual a situação pela qual passei... Só que o ser em questão não me via como amiga... Então, tomou uma rasteira e ainda colocou a culpa em mim...
Espero que quem está passando por isso no seu escritório acorde e não fique depois achando que foi a vítima!
Besotes...
O que falar mais? Você deu o começo, o meio e o fim desse texto todo, nada pode fazer, e você ainda é legal, fora a galera escrota que quer que ela se ferre mesmo, tem muita gente assim por ai..
Sorte!
Oi! Sou eu, sua nova leitora!
Tentei comentar aqui antes mas não foi... ñ sei o q aconteceu.
Enfim. Fiquei com 2 dúvidas sobre seu post:
1. Você já tentou dar um empurraozinho nessa pessoa? Porque tem gente que precisa disso...
2. Por que as pessoas sempre te procuram pra falar mal dela?
Ai amiga, isso tudo é tão complicado! Só nós podemos nos mudar, qdo a gente entende q alguma coisa faz mal fica mais fácil, de outra forma, sem chances... complicado! Eu me identifiquei mto com seu post, eu sempre fui a engraçada, a brincalhona e as pessoas não me levavam a sério, então eu mudei radicalmente, hoje eu sou a IGNORANTE! hahahahha e quer saber, estou bem melhor assim! E sinceramene, sou bem mais feliz!!!
Tati Izzo
Querido Anônimo 1:
O assunto é delicado e cansativo. Já empurrei tanto, q não sei como a menina não caiu ainda. Esse é o mal. Farei como Pilatos daqui por diante.
Porque me procuram? Porque já estive no mesmo cargo.
Então as pessoas infelizmente comparam. Mas eu já estou verbalizando q não quero falar sobre isso. Venho cortando. Espero que pare.
Querida Tati Anônima,
Mundo corporativo é foda. Infelizmente vc tem q fazer coro com a massa, senão o povo massacra. Acho q da porta pra fora, desde q não tenha alguém do grupo junto, vc pode ser vc mesmo, despirocar, etc. Mas dentro do trabalho, tem q ter postura, senão vc é jantado, se queima feio, salvo raríssimas exceções. Infelizmente é assim.
Meu maior sonho sempre foi ter fama de piranha.
O sistema tanto faz que enquadra a pessoa. Pode deixar que um dia ela vira você.
Magui, o objetivo não é esse. O objetivo é q a gente cresça como indivíduo e aprenda a conviver em comunidade, né?!
E hoje, o que as pessoas pensam de você?
Qual sua fama?
Isso tudo melhorou?
Hoje eu mudei de empresa, cheguei bem pé no freio, conhecendo pessoas e processos e conforme fui ficando mais confiante no trabalho, fui me tornando a brincalhona de sempre.
O povo me chama de maluca, mas é mais carinhoso q pejorativo. O bom, é q eu me tornei alguém relevante e respeitada, mas apanhei muito fora daqui antes de aprender.
Valeu cada surra !
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