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quarta-feira, outubro 19, 2011

LIVRO A CASA DOS ESPÍRITOS - É VELHO MAS É BOM!

Isabel Allende
Eu acabei de ler pela terceira vez na minha vida A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende e sinto o choro preso na garganta, mas tal e qual as outras vezes que li, simplesmente as lágrimas não descem.
 
Esse é o único livro de Isabel que eu li na vida, até agora e sua maneira de escrever tão cálida e falada ao ouvido, nos faz querer continuar. É uma leitura intensa, que povoa nossa mente de imagens e nos convida a visitar os lugares que ela descreve, mesmo sem termos pisado lá.

Então vocês dirão que toda leitura proporciona isso. Claro que sim, mas vejo um erro crasso nos escritores de hoje. Em sua grande maioria, eles se perdem na descrição.
Com Isabel, isso não acontece. Ela não se perde, ela pincela a leitura com dados do futuro e permanece no passado com uma maestria, que quando se chega à frente, todo o enredo faz sentido, ela entremeia a história com novas pinceladas de futuro e aquilo que teria sido um futuro, já virou o presente e passado na história e nós, meros leitores temos a visão global da coisa e somos remetidos ao que ela queria ter dito antes.
É impressionante. É fabuloso e único. Ainda não conheci uma autora como ela.

A primeira vez que tive contato com A Casa dos Espíritos, foi na casa de praia do Sr. Engraçado - meu pai - nas férias. Minha queria amiga, dinda Lua tinha ido comigo para lá e achou o livro jogado no sofá em sua... sei lá, 2ª ou 3ª edição.
Não tinha requinte. Era uma capa desbotada e desenhada... Lembro que fiquei irada porque a amiga tinha deixado de conversar; levava o livro para a praia e quase não se dispunha a socializar com os gateenhos do lugar porque vivia encerrada naquele livro. Quando eu reclamava, ela se limitava a dizer que me emprestaria no final. E logo chegou a minha vez.

Sofri do mesmo mal. Fiquei dias encerrada naquele universo de espíritos, de fazenda, de poeira, de glamour, de prostíbulos, política, ditadura, tortura e amores verdadeiros pero non correspondidos. Outros tempos. Fascinante.
Eu não lembro quantos anos eu tinha, mas fato, não tinha idade nem vivência para entender e me sensibilizar com a parte trash do livro.
Na segunda vez, mais velha, no mesmo cenário, por um curto período de tempo entre a última leitura e essa, as impressões foram bem parecidas.
Estava sozinha, com o coração ferido e fui à casa de praia para me curar do tempo. Lá estava A Casa dos Espíritos na bancada que divide a sala e a cozinha. Peguei e me tranquei nele de novo e dessa maneira, enganei o tempo e esqueci por breves dias as minhas próprias feridas. Acho que dessa vez consegui chorar no final. Não teria mais o apoio daquela família me dando a mão...

Agora, aos 38 anos, falando com a Danizinha sobre os filmes e os livros que ela deverá ver/ ter antes de morrer, sugeri que comprasse A Casa dos Espíritos. Ela leu, se encantou e me emprestou. Não sei ainda o impacto que o livro causou nela, mas posso dizer que em mim, com mais idade e 3 filhos depois, as imagens pareceram mais nítidas, as impressões mais fiéis e minha imaginação fértil me levou ao Chile da ditadura de Pinochet! Terrível.
 
A vontade de chorar no final, nem é pela lição que o livro dá, mas por saudade dos personagens. Pela despedida mesmo. Vc se apega àquela família, se apega até ao grande vilão da trama, o Senador Trueba que no final, não passa de um pobre coitado que entendeu tudo errado, que não se adaptou às mudanças de seu tempo. Típico das pessoas que se esquecem que sempre existirá um amanhã e de que a Terra é redonda, os movimentos cíclicos, tudo que vai, inexoravelmente volta. Até dele sentirei falta. Então o choro preso se deve exclusivamente a isso.

Lembro-me que Isabel Allende hesitou muito em vender os direitos autorais do livro para o cinema.

Embora fosse cobrada por isso, recebesse propostas indecorosas, ela mantinha-se firme. Por fim, vendeu os direitos a Billy August (who?) e Michael Hirst (??), e foi na mídia dizer que estava finalmente satisfeita com um roteiro que lhe pareceu mais fiel ao livro. 

Putaqueoparil se isso é fidelidade... Enfim, é um filme que caberia numa minisérie. Se desse esse troço para Daniel Filho ou Marcos Paulo, faria um sucesso estrondoso e ganharia o Oscar da televisão. Mas esses outros dois, comeram dois filhos da personagem principal e sumiram com uma geração inteira do livro. Se isso é um bom roteiro, não sei mais o que é ruim.

Não satisfeitos, colocaram Meryl Streep no papel da personagem central e Jeremy Irons como senador Trueba. Porra! Todo mundo sabe que a diferença de idade entre Meryl Streep e Jeremy Irons é mínima e que por ser ela mulher, acaba em desvantagem! Só que no livro são um casal cuja diferença de idade entre ele e ela, é de quase 20 anos ou mais. Ou seja - vou desenhar - Se Jeremy Irons era o Senador Trueba, sua mulher deveria ser no mínimo Winona Rider!

Inclusive, Winona Rider estava no filme, mas infelizmente esse não era um papel para ela. Tinha muito mais haver colocarem Angelina Jolie com sua força e capacidade de se transformar. No entanto, na época em que foi rodado, Angelina Jolie era nobody!

E Antonio Banderas? Putz! Socorro! O roteiro foi tão ruim, mas tão ruim, que conseguiram fazer do personagem de Antônio Banderas um ser apagado e apático, coisa q no livro, o personagem não era. Fizeram uma salada, com a aprovação de Isabel Allende, que claro, deve ter sido surpreendida por uma soma vultuosa, o que fê-la em 1993 dizer aos 4 cantos da terra que o roteiro era leendo de morrer! Ah me poupe!

Eu, como uma porrada de gente, fui ao cinema dar inúmeros suspiros de tédio e cuspir marimbondos até a última geração dessa mulher, que vendeu seu tesouro por um punhado de tampinhas de refrigerante.

Não que eu tenha a ilusão de que o Harry Potter do cinema, deva ser superior ou idêntico ao livro. Nada disso! Mas seria louvável ter uma direção no mínimo competente por trás de uma obra tão significativa e tocante, caso esse que em A Casa dos Esíritos, nem respeitosa foi!

5 comentários:

Lara Mello disse...

Concordo com você, os autores de hoje se perdem, e a única que mexeu tanto comigo, como esse livro mexeu com você, foi J.K Rowling, que me surpreendeu várias vezes, falando de coisas que só entenderíamos no final, nunca tive o prazer de ler esse livro, mas já assisti o filme, e confesso que eu gostei, imagine o livro então?
Amei o post :)

Tutti disse...

que pena, nunca li o livro!
adoro o filme, mas sempre senti que faltava alguma coisa que eu não sabia o que era. Deve ser toda essa direção errada que você falou. De qualquer maneira é um otimo filme para se entender, pelo menos em parte, o que aconteceu no Chile.

Danizinha disse...

A impressão que eu tive: "Ca-ra-lho!". E eu exclamava isso a cada capítulo que eu lia, sem sacanagem.

Esse livro é tão real, tão bem escrito, super dá pra imaginar as cenas, pra se comover, se surpreender, pra viajar na história e na História... Incrível de verdade!

Esse livro merecia um post meu, mas você já falou tudo. Eu só acrescentaria que a riqueza cultural é gigante: literatura, música, pessoas, vestimenta, classes sociais...

Que a Enxaqueca me corrija se eu estiver errada, mas a Literatura Latina (ou Espanhola mesmo, como queira.) deve ter muito dessas coisas, assim como a Britânica tem de Shakespeare, Virginia Wolf e Oscar Wilde.

Taí. Acho que se eu tivesse feito Letras: Pt/Esp, a sensação seria a mesma que eu tenho todas as vezes que assisto filmes como As Horas, Romeu e Julieta ou Dorian Gray: Encanto.

Sensacional é pouco. Foda também.
"Speechless" me define.

Virei fã da escrita da Allende e, óbvio, procurarei mais.

Agora, quanto a filme... J.K. Howling escrever HP tão bem, mas tão bem... Não adianta. Você sabe que eu sou fã de HP, mas só li um livro da série (o 1º; a Pedra Filosofal). Tem sempre aquele quê de perda, mas ela conseguiu chegar bem perto sim. Outro que chegou perto foi O Código Da Vinci. A-mei aquele filme, e, ao ler o livro, eu não imaginava que viraria filme tão rápido, e nem que eu me encantaria tão rapidamente com um filme. E não foi só pela história dos mocinhos. Já notou a riqueza linguística? Latim, francês, inglês, italiano...

Porra, os dois são foda!

Óbvio que são livros diferentes, escritas diferentes, autores COMPLETAMENTE diferentes, mas os livros são tão ricos que, pqp.

Bato palmas de verdade.
Muito bom.

Bj

Ma Albergarias disse...

Pois é: sempre se perdem as imagens que imaginamos , difícil alguém que consiga passar todo o sentimento que nos envolve.
Não verei o filme.
prefiro ficar com os sons, cheiros e impressões que este livro foda acusou!!

Anônimo disse...

EU LI ESSE LIVRO E É MA-RA-VI-LHO-SO, PORÉM FUI ASSISTIR AO FILME E O QUE EU CONSEGUI ASSISTIR FORAM EXATOS 19 MINUTOS DO FILME... PÉSSIMO COMPARADO AO LIVRO...Q PENA!!!

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