Em casa com crianças, nada mais justo que fazer coleção de desenhos. Principalmente se as crianças superam o número de adultos.
A dica é baixar animações como se não houvesse amanhã.
Em mês de férias, decidimos fazer uma retrospectiva pelo mundo das princesas Disney. Desde a cinquentona Branca de Neve, até a última delas, a coqueluche de todos os tempos da última semana, a rainha Helsa de Frozen.
Muito bem, há algo de muito mágico no ar e confesso estar muito feliz com os resultados.
De 1937 (pasmem meninas, Branca de Neve surgiu nesse ano!) pra cá, quando a meta de toda princesa era arrumar um marido, de preferência que a amasse, lhe desse um nome, filhos sadios e um castelo como teto - só o basicão mesmo - esse valor de amor marital e exclusivo veio se diluindo com o passar dos anos.
Há quem tema ainda hoje, apresentar o mundo das princesas Disney às suas filhas. Isso, porque muitas mães sentem calafrios com a frase que ilustra o final de muitos deles "... e foram felizes para sempre.". Como se luta contra isso? Com a história meus caros.
É só não perder a oportunidade de mostrar como as coisas funcionavam e como passaram a ser para as crianças.
Branca de Neve, Cinderella, Aurora e Mulan, mais recente, ilustram bem as moçoilas da primeira metade do século XX. Moças que para ser alguém precisavam da sombra de um marido. Tudo o que elas queriam se resumia a encontrar um príncipe, um amor seguro, alguém que pagasse as contas e tivesse o carisma de Podolski ou Müller.
Mulan se aplica a essa perspectiva, se levarmos em consideração que era uma moça chinesa, criada para casar. Ainda que ela não quisesse, a tradição em torno dela a obrigava a isso, tanto que ao se alistar no exército se fingindo de homem, logo se apaixona pelo capitão do regimento, jovem, viril e o chinês mais gato de que se tem notícia.
Ariel não se encaixa nesse perfil, uma vez que era apaixonada pelo estilo de vida humano. Ariel é o tipo de garota do interior (oceano) que sonha em fugir pra cidade (terra firme) e esbarrar num grande amor nesse caminho é algo pertinente. Chego a pensar que Ariel é uma cagona, que tira a sorte grande ao se apaixonar por um príncipe. A ficção não nos poupa, claro. Ariel como princesa não ia se apaixonar pelo marinheiro pobre da embarcação. Tinha que ser por um príncipe, já que a personagem principal era uma princesa dos mares. De qualquer forma, vemos claramente a mão do acaso. Ela não sonhou com aquela situação.
Depois vieram outras princesas mais interessantes e independentes e a significação do amor também se tornou mais plural.
A francesa Bela sentia um amor tão grande por seu pai, que concorda em trocar de lugar com ele na masmorra de um castelo habitado por uma fera horrenda. Mais uma vez, fazer o bem sem olhar a quem vale mais que tirar o prêmio na loteria. A fera por fim era riquíssima e no fim, testemunhamos que se tratava de um príncipe gatíssimo. Tudo isso, se torna a recompensa para a moça que apostou na beleza interior. E bota interior nisso!
Tiana, a americana sulista de A Princesa e o Sapo, além de ser a primeira princesa negra, tinha um sonho e sabia que o único jeito de conquistá-lo, era por meio de muito trabalho, já que vinha de uma família pobre. A mensagem subliminar aí é linda. Tiana não tinha moleza, ralava de sol a sol para comprar um galpão que seria transformado num restaurante frequentado por todas as classes sociais. Quer desenho mais inclusivo que esse? Não conheço ainda.
Para completar, Tiana tinha aversão ao ideal do príncipe encantado e era tão pé no chão, que ao se deparar com ele, fez piada com o fato d'ele não saber fazer nada. Como todo bom romance, um foi descobrindo a qualidade do outro e o amor se fortaleceu na adversidade, unindo-os no final.
A alemã sob a ótica Disney, após 18 anos presa numa torre, puxando um cabelão quilométrico, aprende a se virar em casa. Ela pinta, borda, brinca,, canta, cozinha e tem um sonho muito comum, que é apenas sair de casa. Para isso e sem o conhecimento de sua mãe adotiva, ela se alia a um bandido, que promete levá-la ao castelo do reino para assitir à queima de fogos que acontecia sempre na data de seu aniversário (coincidência?).
Rapunzel é romântica, sonhadora, mas uma comunicadora bastante eficiente. Não há quem não se encante com ela, não apenas por sua beleza, mas pela simplicidade e alegria contagiantes.
É das primeiras princesas a salvar o príncipe. Tanto ela, quanto Tiana, são responsáveis por "salvar" seus companheiros. Mostram que não representam mais aquela gama de princesas frágeis, donas de casa. Essas, vão à luta e esbanjam independência. Está escrito!
Depois dessa virada, aparecem as outras formas de amar. As princesas cujo amor não se traduz em caçar um homem necessariamente. Valente, a escocesa de cabelos cor de fogo, totalmente desgrenhados, tem uma relação de amor e ódio com a mãe. Tanto, que apela para a bruxaria para sair de seu jugo. No entanto, seus planos naufragam e ela transforma a mãe num urso, que acaba sendo caçado por seu pai e amigos.
No decorrer da animação, todo o lado positivo na educação rígida de sua mãe começa a fazer sentido e ela luta para desfazer o encanto, que claro, só se desfaz com a descoberta do amor verdadeiro.
E por falar em amor verdadeiro, quem tem filha sabe, ninguém aguenta mais ouvir essa palavra pra lá de gasta em Frozen. Apesar de a música Let It Go ser o tema da personagem Helsa, a princesa que nasceu com o dom de congelar o que quisesse, é sua irmã, Ana quem brilha e canta um bando de músicas no filme. Não só isso. Ana, apesar de ser a sonhadora, ingênua, idealista que procura inclusive o grande amor de sua vida, descobre no final, que o nome daquele sentimento que sentia todo o tempo por sua irmã, era o tal amor verdadeiro. Portanto, Frozen é um filme sobre o amor de duas irmãs. Enfim, tiraram o foco do sexo oposto. Lindo e surpreendente. Ouvi dizer inclusive, que Frozen foi acusado pelas más línguas, de fazer apologia ao homossexualismo.
Mas claro, esse tipo de pensamento nem merece crédito, haja visto que nas redes sociais a gente encontra todo o tipo de imbecil, cujo esporte predileto é falar merda sobre todos os assuntos.
Apesar de ninguém mais aguentar assistir aqui em casa (leia-se eu e marido), as crianças pedem Frozen todos os dias. Poder testemunhar a evolução do significado de amor pelas lentes da Disney, ver que eles souberam se atualizar e conseguem passar para as crianças de que não há perfeição e nem que nada é para sempre, vale sim o ingresso no cinema.
Quem pode acompanhar, não está jogando dinheiro fora, está evoluindo com seus filhos, ainda que a percepção deles seja outra.