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quarta-feira, janeiro 18, 2006

Da série: POST NÃO! TESTAMENTO

A Síndrome de Peter Pan afeta muita gente.
As pessoas é que se fantasiam de normais e camuflam... camuflam..., mas se vc observar bem, consegue distingüir quem é quem!


Ele era um cara cuja preocupação essencial era a tranqüilidade.
Viveu seu auge no século XX, mas como se permitiu viver tudo o que quis, sem excessos, conseguia disfarçar muito bem os traços da idade.
Corpo bem torneado, rosto com poucas rugas, profissão favorável com a atualidade faziam dele uma cara agradável, que sempre tinha um assunto em pauta, geralmente muito divertido, para contar nas rodas de amigos.

Ele estava só.
Sempre esteve, embora quase sempre acompanhado.
Passava uma imagem de extroversão, geralmente confundida com a de pegador, garanhão... nunca desmentiu.
As mulheres que teimavam em se apoderar dele, nunca estiveram seguras. Estavam sempre em pânico.
E ele lá. Tranqüilão. Sabia que seu coração não tinha dono, então, enquanto a pessoa certa não aparecia, ia ficando c/ as erradas mesmo.

Eu sempre o observei. E confesso que me espelho muito mais nele.
Não na fama de ser popular, mas por sua atitude positiva diante da vida, por sua extroversão, pelo seu alto astral.
Eu até acredito, que a falta de rugas no rosto dele, mesmo no auge de seus cinquenta e tantos anos, se deva a isso. Ele é uma hiena com conteúdo.

Há quatro anos atrás, andava suspirando e entre um suspiro e outro, soltava um nome curtinho na respiração.
Andava rindo até de desastre, principalmente quando se referia a ela.
Eu me perguntava se seria possível estar acontecendo com ele.
É... a gente está tão acostumado com certas atitudes das pessoas, que é uma falha a gente achar que uma nova atitude pode não vir daquela pessoa. Ledo engano.
Ele estava apaixonado.
E falava de vinhos, de música, de alma gêmea... vê se pode?!

Passou pouco tempo até e a coisa desandou.
Ela não deu a atenção que ele esperava ou merecia (?). Ele ficou murchinho e passou a sorrir menos.
Aí, voltaram os fantasmas do passado. Melhor dizendo, as defuntas.
Essas, colam, ligam a cada 5 minutos e acham que estão governando a vida de um homem.
E ele deixa. Deixa ela pensar e vai cozinhando a dita por uns tempos.
Vai levando, vai saindo, chama de amor, mas lá no fundo, eu sabia q nada daquilo duraria.
E vendo aquela situação toda, meditava acerca da perda de tempo dos dois. Por que as pessoas fazem isso consigo?
A vida é uma merreca diante do universo. Somos eternos, mas nem tanto dependendo do contexto. E tempo, é algo que não devemos desperdiçar, principalmente em se tratando de pessoas.

Queria muito que ele fosse feliz. E quero.
Queria muito que ele encontrasse um alguém, que mostrasse o brilho que a vida tem.
Que fosse menos possessiva, com uma auto-estima de pH equilibrado. Prá trazer para a vida amorosa dele, a tranqüilidade já existente nos outros setores.

Aí, num final de ano desses, fomos viajar e ele começou a suspirar de novo e levou as 2:30h de viagem, falando de um certo alguém.
Alguém que tinha um beijo mágico, que era inteligente, gente boa, suave...
Eu fiquei pensando... pensando... e torcendo. Tomara!
Ele suspirava e entre um suspiro e outro, soltava o nome dela e dizia que estava quase fazendo besteira.
E eu dizia: Tomara que faça mesmo.
O que vc chama de besteira, pode ser sua salvação.

Chegou o dia em que a gente se conheceu.
Ela passando leveza e suavidade no olhar e um poder, mas um poder sobre si mesma, que faz toda a diferença.
Eu fiquei feliz, eles estão felizes.
Finalmente, ele fez besteira. Está se entregando. Está dando o grande salto (aquele, que a maioria dos mortais teme, porque sabe o quanto é bom e o quanto dói) e de cabeça.
Ele está radiante, tão radiante, que ontem foi à pedicure!
Não riam.
Vcs não viram o estado daquelas unhas! E quem pensa ainda que mulher gosta de brucutu, está redondamente enganado.
As defuntas foram enterradas...

Ontem eu fui ao aniversário dela. Foi ali no Leme, com aquele clima maravilhoso, cheirinho de mar (foi à noite), brisa, cangas estendidas, muuuuitas frutas e gente interessante espalhada pela areia, rindo, jogando conversa fora, de bem c/ a vida. Taí. Gente de bem c/ a vida. É disso que a gente precisa. Boas companhias prá fluir legal.
E o curioso é que no calçadão estava bombando uma outra galera, sabe?!
Daquelas c/ cabelo cor de rosa, roupa preta e beijo feminino. Aliás, que beijo.
Eu às vezes sinto dó pela situação dos gays.
Eles não dispõem da mesma liberdade que os héteros.
Eles tem que aguardar o cair da noite, um grupo confiável p/ se expor, enquanto que os héteros, podem quase tudo em qualquer lugar...
Quando vi aquele beijo, por mais q as meninas parecessem querer mais se auto-afirmar, que qualquer outra coisa, esse pensamento me veio a cabeça.
O gestual, a tentativa de mostrar uma vida louca e frenética e do "eu posso tudo" não me convenceram. Mas não nego que ser diferente nesse país, é algo admirável. No mínimo admirável. Envolve tudo. Absolutamente todos.
É um grande engano quem pensa que é uma ilha. Todas as ações de uma única pessoa, esbarra e provoca reações do universo.
Mesmo que ela seja só.

Bem, teve caminhada em busca de banheiro.
Portadas na cara... é... os restaurantes chiques do Leme, não respeitam a bexiga alheia.
Eu tive que rodar minha baiana, né?! Botar a neguinha de morro prá fora... é, me desglamourizar.
Gritei pro Hostess, que eu nunca pisaria ali, mesmo se não estivesse apertada.
Ele ficou c/ aquela cara de: "foda-se sua preta fe-fodida!"
E eu c/ aquela cara de: "Foda-se vc seu empregadinho de merda, que quando voltar prá casa de trem, vai mijar nas calças porque trem não tem banheiro!"

Continuando c/ a caminhada - isso porque as duas mulheres do grupo que me fizeram ir lá c/ elas, tinham problema prá mijar na areia, como se só elas nesse mundo de meu Deus fizessem xixi - chegamos a um bar q fica ao lado do Sindicato do Chopp do Leme, que não tem portas e eu fui entrando, seguida pelo bonde das apertadas.
Parecia o playground das mijonas! Tinha descarga funcionando, papel higiênico, espelho, pia, sabonete, papel toalha p/ as mãos, enfim, um pa-ra-í-so!! (Olha aqui, porra, eu estou descrevendo sob a ótica de quem está c/ o xixi nos cílios, Ok?! Então desfaça essa cara de: "prá quê ela está contando isso?")

A noite acabou meio que assim. Com leveza, com felicidade no coração e com The Strokes por parte da galera punk-clubber do calçadão.
Na minha opinião, eles até demoraram a ligar aquele amplificador. Poderiam ter feito isso antes, já que chegaram pouco depois da gente.
Aí seria mais que perfeito!
Até Pacotinho dançou...

É... Sr. Engraçado precisa crescer.
Será que dessa vez vai?

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