Não se fala de outro assunto na mídia.
O adversário mais poderoso de Anderson Silva na revanche contra Chris Wideman, foi a tíbia e a fíbula, que compõem os ossos da canela.
Por essa ninguém esperava.
Não compramos o PPV da luta por aqui e veríamos a reprise, portanto, diante de tanto silêncio, já imaginava que algo de ruim pairava no ar. No entanto, como sou a rainha do otimismo, cheguei a crer que teria havido algum tipo de mega atraso no evento, que justificaria tamanho silêncio.
Ah, o celular? Fiz questão de não pegá-lo. Queria ver com meus próprios olhos o que teria sido dessa luta.
Gente, em Julho último, quando Anderson fez aquela presepada na luta pelo mesmo cinturão de peso-médio, que significou sua perda, assim, analisando friamente, ele já era tão consagrado, mas tão consagrado, que pouco se falou de Chris Wideman. Se falava mais da derrota do ídolo, que da vitória do novo campeão.
O Esporte Espetacular, fez aquela cobertura en passant pela vida do jovem vitorioso, o que me deixou de queixo caído, tamanha humildade e determinação do lutador. Com apenas 10 lutas e 10 vitórias, ele foi capaz de tirar o cinturão de um Anderson tão acostumado à fama e aos holofotes, que a postura de respeito e humildade batida dentro das artes marciais foi posta de lado e claro, isso sempre tem um preço. Afinal, a humildade deve vir em primeiro lugar, sobretudo em situação de confronto, não é?
Wideman, um novaiorquino de 29 anos, de classe média, temente à Deus, soube usar isso muito bem a seu favor e ficou muito bem na fita. Já Anderson Silva, diante da derrota, me pareceu que viu a ficha caindo em câmera lenta, juntamente com sua queda.
Ontem, 6 meses depois, o que percebemos foi um atleta extremamente focado, sério e respeitoso. Pois é, as quedas sempre ensinam, no entanto, a lição latente, talvez seja algo que a maioria dos brasileiros não esteja pronta para enfrentar.
Creio verdadeiramente que esteja na hora de parar.
Eu, a eterna otimista, li isso nas entrelinhas.
São quase 10 anos de diferença entre os competidores; o brasileiro, consagrado e favorito por 7 anos consecutivos, um dia vai ter de parar; a forma como aconteceu, foi a pior e mais dolorosa possível, tanto, que a grande maioria dos presentes não tinha coragem de olhar para o telão e assistir novamente o golpe que fraturou a tíbia de Anderson, deixando a perna pendurada como um saco de pano.
Chris sem se dar conta da gravidade do acidente, chegou a dar uns pulinhos no octógono e mentalmente, foi acusado de babaca por uma expectadora que da cama, também não tinha entendido ainda o que ocorria. Na hora a gente pensa que o cara está fazendo corpo mole, dá vontade de berrar "LEVANTA DAÍ, PORRA!", mas o replay foi categórico. A imagem daquela perna pendurada dispensa dúvida.
Talvez seja hora de pensar em parar mesmo.
Pode ser que seja hora de se dedicar aos 5 filhos, virar técnico, viajar mundo afora pra esquecer, se refazer física e intimamente, deixar o circo de lado.
Essa pode ser a mensagem e isso não será reconhecido como sinal de fraqueza, pelo contrário, há que se ter bastante nobreza para aceitar que não somos constituídos de aço, que os ossos quebram e que a família precisa de nós vivos e sãos.
Anderson Silva tem 5 filhos e a imagem que ficou, do pé pendurado, tem que significar alguma coisa. Além do mais, oponentes não são feitos apenas de carne e osso. Existe o tempo, a mágoa, a dúvida, o medo e o público.
Esse papo de revanche é lindo pra quem está do outro lado da tela, do outro lado do mundo, com a família reunida, assistindo tudo pela TV, no conforto de seu lar. Mas para o atleta, a dor é de verdade e dinheiro algum compra a integridade física de alguém. Ainda mais em se tratando de Anderson Silva, que já provou tudo o que tinha de provar.
Não tem necessidade. A gente sabe que ele é bom e isso deveria bastar.
Os sinais estão aí, basta lê-los.
O ex-campeão já foi operado em Las Vegas e passa "bem". Os ossos da tíbia ganharam um pino intramedular e não será necessária nova cirurgia para recompor a fíbula, que foi estabilizada. O tempo de recuperação será de 3 a 6 meses.