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quarta-feira, novembro 16, 2005

LADOS

Eu tenho um ladinho feio.. feinho que dói.
Detesto mal gosto e não gosto de dividir o mesmo espaço com gente assim.
Embora minha aparência esteja bem distante dos catálogos de moda de Marie Claire, até porque eu sou de carne e osso/ gentem como a gentem, eu preferia mil vezes ter que conviver com gente que povoa aquele espaço de revista, do que com aquelas pessoas de ontem.

Explico.
Já disse muitas vezes que não gosto nem um pouco da Barra da Tijuca.
Acho a Barra algo parecido com os subúrbios do Rio se tivessem praia.
Ok. Podem me apedrejar, mas fazer o quê se lá, salvo raríssimas exceções, reina o mal gosto.

Engraçadão em termos de praia, é categórico. Barra da Tijuca.
E eu, se tivesse escolha, Ipanema ganharia disparado.
Acontece que mulher apaixonada e casada, não tem escolha, principalmente fins de semanas e feriados prolongados.

Aí, eles construíram a Linha Amarela, que liga desde a Avenida Brasil, na altura de Bonsucesso até a Barra.
Não preciso dizer mais nada, né?!

As razões:

De Engraçadão.
Ele foi criado em jacarepaguá e cresceu freqüentando a praia da Barra, desde o tempo em que lá só tinha mar e capim, desde o tempo em que éramos os dois só pele e osso. (É... houve esse tempo!)
Naquela época, a Barra era freqüentada por gente da Barra, da Tijuca (q é onde a gente mora) e de Jacarepaguá.
Como tudo lá é longe, a praia tinha ares de praia particular, portanto, o pessoal levava seu esopôrsinho, não sujava a praia e tudo saía dentro dos conformes. Inclusive, quando a Barra começou a crescer, existia uma forte campanha de preservação do meio ambiente/ pró-limpeza da praia.

Engraçadão tinha um point lá. Próximo do posto 6, quando ainda nem existia posto na Barra (isso veio depois), que se reunia a galera da rua que ele morava e que inclusive, a mãe de um deles, vendia coisas prá comer e beber.
O tempo passou, o point persiste, a galera ainda se reúne, mas tudo que está em volta...

Minhas razões:

Ipanema é cartão postal e eu cresci freqüentando essa praia, onde tem espaço prá tudo.
Tem espaço pros ripongas, pros sarados, pros gays, pros bonitos, prá galera do morro, prá galera do apito, prás putas, pros gringos e o problema é que em finais de semana e feriados, fica tudo misturado... tudo ao mesmo tempo agora.
É um tanto quanto perigoso até.
Por isso, Ipanema é bom, se vc trabalha só 6 horas por dia e pode se dar ao luxo de ir lá nos dias de semana.
Aí sim, vc vai respirar o verdadeiro ar de Ipanema.
Não importando se tem celulite, se é feia, se é gorda, pobre ou rica.
Lá, a gente tem uma impressão automática, de conhecer todo mundo.
Os camelôs, a galera q joga vôlei ou futvôlei e deixa vc tomar banho no chuveirinho se o mar estiver muito brabo ou muito gelado...
Ipanema é assim. Democrática...

Lembro que freqüentando pouquíssimos meses antes de Pacotinho nascer, me encontrei numa galera q vendia sanduba natural. Eu chegava sozinha ou acompanhada de um livro e os caras já traziam cadeira, a barraca, eram simpatissíssimos e ainda apareciam os freqüentadores, q socializavam o fininho.
Mas naquela época, por não conhecer a galera direito, não me sentia confortável p/ fumar c/ eles.
Detalhe: Uma vez, um deles (já corôa) ofereceu um tapa prá minha mãe. Que de tão natural que lhe pareceu a situação, negou c/ um sorriso.
Como se convivesse a vida inteira c/ aquilo.

Ipanema é impraticável nos feriadões. A galera do morro desce em peso, e às vezes o bicho pega.
E eu não querendo me expor, nem à minha família, acabo cedendo. E vou prá Barra.

Ontem, prá variar, fomos prá barraca da Tonha. Ali ali o caralho! no posto 6, perto do Oásis.
Encontramos alguns ex-vizinhos do Engraçadão. Até aí nada demais. O pessoal é maneiro, a gente aproveita prá por o papo em dia e matar a saudade de alguns momentos em comum.
Só que eu teimo em me deparar c/ o que está em volta. Tsc, tsc, tsc...

A gente é o típico quadro do casal c/ filho pequeno.
É bolsa térmica contendo danoninho, fruta, suco de fruta, cerveja, cerveja, cerveja, piscina de plástico, cadeira - guarda-sol não precisa, porque a Tonha fornece - cadeira de praia e até a gente armar todo esse circo, já deu 1 hora de praia... fora o engarrafamento. Me senti a própria paulista indo à praia em dia de feriadão.
Aí vc chega beija todo mundo, Engraçadão tá lá tentando estacionar.
Tira a roupa do Pacote, deixa ele de sunga, busunta de protetor fator 30 e Engraçadão tá lá tentando estacionar.
Aí, ele começa a pedir prá ir mergulhar, embora a água esteja um gelo. Vc enfrenta o frio e leva. Engraçadão talvez já tenha conseguido uma vaga!

Pacotinho volta da água e começa a perguntar do pai, quando vc o vê apontando lá de longe, trazendo a tranqueira toda.. piscina já cheia, cadeiras, bolsa e o resto que eu não consegui trazer sozinha.
O coitado não tem descanso. São várias idas e vindas c/ baldes cheios d'água e quando ele pensa que está bom, Pacotinho grita que quer mais água (ele pensa q está na piscina do clube!).
O pai não atende, e como ele se põe a chorar decepcionado, uma vizinha q não está acostumada c/ as artimanhas do Pacote, se propõe a buscar mais 1 balde. Mas deixa bem claro: "Só esse, hein?!"
Ele se contenta.
Daí, eu relaxo. E a praia começa.
E fatalmente eu olho pros lados.
Me deparo c/ gente esquisita de toda sorte. Umas, fazem da praia o banheiro de casa.
Se lambuzam de Blondor, com pincelzinho e tudo, pelas pernas, bunda, barriga, para os pêlos ficarem louros.
Não eram loiras esbeltas, nem branquelas distintas.
Eram umas negonas, umas saradas, outras gordonas. Tôdas cagadas de blondor em plena praia da Barra sem nenhuma culpa.

Prá mim, a verdadeira visão do inferno!
Aí, eu vejo aquilo, me calo e pergunto em pensamento: POR QUÊ MEUDEUS!
Nem dá pra reclamar tanto. Ipanema nesse mesmo dia, é humanamente impráticável.
Teríamos os mesmos problemas prá estacionar, talvez, nem teríamos espaço para armar nosso circo todo...
Então, eu tenho de me conformar e ficar na Barra mesmo.

Mas é tudo tão esquisito.
Aquele ponto que era familiar, que tinha gente normal, que não poluía nossa visão, agora é freqüentado pelas pessoas que não têm educação, que se comportam, como se estivessem no banheiro de casa, ou no seu próprio quintal.
Pelas pessoas que jogam latinha de cerveja na areia da praia, não importando que aquele latão da Comlurb esteja a cada metro e meio, com seu laranja gritante, tentando inutilmente chamar a atenção daquele bando de porcos. Coitados dos porcos, os animaizinhos não tomam cerveja, agora lembro!

Eu tenho esse lado feio, da intolerância c/ esse tipo de gente.
Dessa gente pobre. Mas é uma pobreza de espírito, daquelas que não adianta vc alertar, porque o nível de entendimento é aquém do seu. Mesmo sendo tão óbvio!
Eu falo do subúrbio, não porque tenha preconceito com esse lugar, mas falo de cadeira mesmo. Porque morei lá e sei do que estou falando.
Daquela gente que usa janela prá berrar o vizinho do lado, ao invés de tocar a campainha ou usar o interfone.
Daquela gente que no ônibus, passa sem pedir licença ou pede licença, quando já levou metade de vc, c/ alma junto.
Desse tipo de gente, que vai à praia e emporcalha tudo a sua volta.

Eu posso realmente estabelecer um paralelo, me sinto nesse direito, porque saí de um lugar de classe média (sic!) e fui jogada no meio do subúrbio e de lá, só pude sair quase 10 anos depois.
Então eu posso falar. Eu posso criticar, porque não é mero preconceito.
Infelizmente é uma constatação.
E exite gente boa no subúrbio. Gente educada, que não faz nada disso. O ruím é que esse tipo de suburbano não vai á praia.
Se vai, é para a Região dos Lagos, aonde tem sua casa de praia.

Ces't la vie...
O bom disso, é que ainda sim, preservei meu lado feio.
Esse que não me permite ser igual.
Eu NÃO me contaminei, felizmente...

Bj na bunda.



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