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sábado, dezembro 06, 2014

INTRODUZINDO A MÚSICA NA VIDA DAS CRIANÇAS - PROJETO BATERIA DE JOVENS SURDOS TIM


Jenniffer Alexia
Roxana tem três filhos: Jenniffer Alexia, Johnathan Carlos e Rupert Augusto. A rotina deles é incrível! Acordam, vão à escola, às tardes Jenniffer  toma aulas de ballet, piano, inglês e francês em dias alternados. Já os meninos, Johnathan e Rupert vão ao futebol, inglês, tênis, natação, alemão e mandarim também em dias e horários alternados. Nos finais de semana recebem os amigos em casa, fazem programas ao ar livre com os pais ou vão ao teatro e cinema não necessariamente nessa ordem. São crianças cultas, educadas e inteligentérrimas.

Esse cenário lindo, de sonho, magnífico e quase real não fosse uma diferençazinha básica. As crianças não têm esses nomes, seus pais não são abastados e suas rotinas escolares estão tão, tão distante disso, que chega dar dó. Nossos personagens são na verdade Dona Miúda, Sr. Cabeça de Bolinha e Pacotinho, nossos velhos conhecidos, cuja vida escolar e extra-curricular é bem menos abastada que da descrição acima. Uma pena.

Johnathan Carlos
Mas isso não é desculpa. Os pais dos nossos personagens são pessoas atentas, que na medida do possível, tentam introduzir riqueza cultural na vida das crianças. Papai e mamãe estão sempre de olho no que rola pelas redondezas e se a palavra incluir 0800 no meio então, melhor ainda! Papai no setor de esportes e mamãe mais voltada para cultura e entretenimento. 

Foi assim que a gente descobriu a Biblioteca Parque, foi assim que descobrimos parques abertos, levamos à praias não frequentadas usualmente e cursos e mais cursos perto de casa.

O fato de os dois meninos serem alunos da rede pública é um facilitador. Enquanto uma parcela da população está se fodendo pra pagar cursos extra-curriculares na rede particular, ou dando metade da carteira para que seus filhos façam outras atividades fora da grade na própria escola, aos alunos da rede pública quase tudo é oferecido de graça. 

Rupert Augusto
A escola de Pacotinho é um bom exemplo disso. Para alunos de 6º ano esse ano, foi oferecida bolsa de 3 anos no IBEU, também a SOS Computadores andou visitando a escola, oferecendo bolsa para dois cursos. Claro, o objetivo era vender outros cursos, no entanto, nós que somos verdadeiras esponjas, colocamos Pacotinho para fazer as aulas gratuitas.

Minha introdução tá muito longa. Nem era tanto sobre isso que queria falar. Hoje, quero apresentar o Centro Municipal de Referência da Música Carioca. Nome gigante, espaço lindo e o melhor, aberto à comunidade. 

E quem disse que a comunidade está sabendo o que rola ali? Nos fins de semana, você encontra nomes da MPB em apresentações a preços módicos. Em sua maioria são nomes expressivos do samba carioca, ou da música instrumental. Contudo, a menina dos olhos são as oficinas. Só esse ano, três oficinas foram abertas para a criançada e garanto a vocês, vem gente de tudo o que é quinze bandas. A sensação que eu tenho é que vem mais gente de longe, que das redondezas.

Infelizmente Dona Miúda fica fora dessas atividades porque é muito pequena, no entanto, os garotos à partir de sete anos já conseguem tocar um instrumento musical, para orgulho da mamãe, que claro, fica "soltinha na roda da ciranda!" Se eu pudesse escolher a profissão dos meus filhos, coisa que não me cabe, certamente gostaria que fossem músicos, chef de cozinha, modelos internacionais sim, ou atores de sucesso, ou cantores de sucesso - notem, estou excluindo a ala pobre, porque na minha cabeça eles são bem sucedidos e podres de ricos fazendo o que gostam! - mas a verdade é que vou apoiá-los no que quiserem ser. Só não podem ser bandidos, políticos corruptos (pleonasmo ou cacofonia?) e/ ou vender o corpo, o resto eu deixo.

Pose pra foto antes da apresentação do Sheraton
Daí, que esse ano tivemos a Bateria de Jovens Surdos da TIM, que consiste num projeto de integração entre meninos com e sem deficiência. Projeto maravilhoso, inclusivo, com resultados emocionantes, que me levou a entrevistar o diretor de bateria da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, Mangueirinha, que coordena o projeto (publicarei aqui em breve); teve também o Coral da Palavra Cantada, cujo nome é autoexplicativo e agora no segundo semestre abriu uma turma com aulas de gaita.

O Coral foi um projeto grandioso que culminou na apresentação das crianças numa casa de show no último domingo, com a participação dos integrantes do Palavra Cantada. 

Fazendo a pobre, tirando foto no banheiro do Sheraton
Eu toda serelepe no tempo das audições inscrevi Pacotinho (sob protestos) e o Sr. Cabeça de Bolinha, pois já havia percebido certa afinação na voz. Todavia, eles escolheram apenas um dos meninos e como Murphy não dorme, nem tira férias, o escolhido por timbre de voz e idade, foi Pacotinho. 

Infelizmente, eles escolheram errado. Pacotinho foi por dois meses e por conta do horário da escola, acabou caindo numa turma onde a faixa etária era bem menor que a dele. Moral da história, não aguentou e pediu pra sair zero dois. Minha cara apesar de ter sido arrastada na medina, não podia forçar o garoto a fazer algo contra a vontade.

Nesse ínterim, eles levaram a Bateria de Jovens Surdos com bastante seriedade, com chuva ou sol, todo sábado, quase quatro horas de ensaio sem pestanejar. Eu já vi e fotografei alguns e posso garantir que só amando muito. A técnica utilizada pelo mestre é bastante cansativa. Primeiro ele treina passada. For dummies, significa que as crianças ficam marchando para garantir o ritmo. A classe é composta por crianças com diversas deficiências, entre elas, visuais, auditivas, da fala, autistas e outros que só no olhar não dá pra identificar, além das crianças sem deficiência. Então, para colocar todos no ritmo é através da passada que eles marcam, depois, é passada e palmas, cada um fazendo o som que fariam com o próprio instrumento e por fim, os instrumentos entram em cena. No último ensaio que fui, pra vocês terem uma noção, só de olhar cansei antes de eles pegarem os instrumentos. Não, não é coisa para fracos, tem que gostar muito.

É claro, o patrocínio não está ali de enfeite. Garante instrumentos de qualidade e lanche todo sábado para as crianças. Muitas vem de bairros longínquos e nem sempre se alimentam antes de sair de casa.

Agora com Jojô do Agogô
Fato, é que a bateria evoluiu e um danadinho que tem se mostrado um talento é o Sr. Cabeça de Bolinha, que já no primeiro dia ganhou o nome de Jojô do Agogô. 

No último fim de semana pude conferir a performance. No primeiro para os familiares e no domingo a apresentação foi no Sheraton Hotel, para os executivos da TIM. Ali eles tocaram samba, pagode, xote, ciranda e ainda rolou a performance do Zé, um menino que faz um solo de arrepiar, puxando a bateria com a caixa. Ele sola e a bateria responde. Coisa de louco! Emociona, arrepia e dá vontade de uivar pro Zé. Pena que tenho poucos minutos de vídeo pra mostrar a vocês. 

Em rápida conversa com o mestre, descobri que Jojô do Agogô tem realmente um ouvido musical e não era só impressão minha! Nosso Cabeça de Bolinha será apresentado à caixa, instrumento tocado pelo irmão de 12 anos. O garoto é danado. Ele leva o agogô sem errar e quem pensa que agogô é fácil, está enganado. Apesar de ele tocar o mais simples, não é só sair batendo. Tem o tempo certo de cada música e o garoto faz certinho, sem errar e ainda ajuda os que estão chegando. Portanto, quando se pergunta o que ele quer ser quando crescer, o moleque já responde: músico e jogador de futebol (lado paterno).

Nem precisa dizer que minha baba tá escorrendo pela via pública. Além da bateria, esse menino faz aulas de gaita, tudo de graça e no mesmo local. Ou seja, se depender dele, vai prestar vestibular pra Villa Lobos, que seria a federal de música daqui do Rio.

E com isso, eu me despeço de vocês com coração mais leve, porque é como diz minha querida amiga ainda virtual, Ane Brasil, 'Com o andar da carroça, os melões se ajeitam'. Sabedoria popular é co nóis!

Para dar um confere na performance do Zé arrepiando com os meninos e puxando a bateria, clique neste link. 
Cardíacos, se segurem nas cadeiras.



 

1 comentários:

Amanda Schuler disse...

Duas faculdades é super puxado sim, meu bem.
Que máximo esse post. Aqui na minha cidade temos vários projetos sociais relacionados com música, inclusive uma parceria com a escola de música suíça.
Beijocas

rendasepaetes.com

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