Ao ler o texto da Rita Templeton
para o Brasil Post (link no final desse post), Por que eu quero que meus filhos me vejam nua, acendeu uma
luzinha aqui dentro da minha cabeça.
Em princípio, porque tive uma
educação mais rígida e era incentivada a resguardar meu corpo por ser uma menina
e ter a casa cheia de adultos das mais variadas idades, sei lá; depois por
notar que havia uma malícia no olhar da minha progenitora, então tentei não
reproduzir esse tipo de educação quando fosse mãe.
Havia o cerceamento provocado
pelo pecado. O pecado era algo que estava bem ali na atmosfera ao alcance da
mão. Eu não fazia ideia de como se contraía pecado, nem como isso era transmitido,
só sabia que não deveria ficar nua dentro de casa.
Já a minha avó, estabelecia
um tipo de cumplicidade comigo, que me permitia tocar em seus seios, ver parte
de sua bunda imensa (ela era gordinha) e através de todas as suas imperfeições,
cheguei a conhecer um corpo feminino familiar. Essa cumplicidade era tão benéfica, que eu admirava o corpo da minha avó, a ponto de dizer que quando fosse vózinha, queria ser gordinha igual a ela. Da minha mãe nunca. No máximo um
topless na penumbra e olhe lá. Seu jeito de ser, respeito.
Através das primas tinha acesso
ao corpo jovem e durinho, quando elas tomavam banho lá em casa e me punham
debaixo do chuveiro com elas. A cabeleira na perereca era algo que me
despertava curiosidade, já que não tive acesso a outra perereca que não a
minha, sem cabelo, claro.
Tudo isso me levou a crer, que quando
fosse mãe, eliminaria o pecado dos moradores da minha casa. No meu caso, nem
pensei exatamente na mensagem que estaria passando acerca das imperfeições do
corpo feminino, apesar de já ter sido sabatinada por três crianças de idades
variadas. Nesse ponto, a autora do artigo foi muito mais generosa e consciente que eu. Ok, cada um com seus motivos e o dela é realmente louvável. O meu não é? Hmmmm...
Pacotinho, de 12 anos, sempre
levou na boa e achou normal. Pai e mãe ficavam pelados em casa, passando de um
cômodo a outro, tomando banho junto com ele e apenas os tais pelos pubianos
despertavam certa curiosidade.
Já o Sr. Cabeça de Bolinha sempre
foi vidrado em peitos. Quando a gente tomava banho junto e eu ia enxugá-lo,
pedia pra pegar, dar uma apertadinha e ao ser consentido, caía na gargalhada
imediatamente. Coisa boba, curiosidade de criança e óbvio, eu ficava constrangida, mas fazia cara de poste, abrindo meu corpo pra pesquisa científica do mini gênio. Faz parte da primeira infância usar o tato para aprender, então vamos lá! Acaba logo com isso porr... Enfim, essa fase passou.
Já Dona Miúda quando tomava banho
comigo ficava curiosa em saber quando seus peitos iriam crescer, se um dia
teria cabelo na perereca e soltava um sonoro eeeca! Ao saber que sim, terá.
Não quero criar crianças
encanadas com o corpo, ou com a própria sexualidade. Um dia, eles dividirão
banheiros em vestiários coletivos em clubes, saunas, piscinas e tanto não
passarão constrangimento com o corpo alheio, como também, não farão outros se
sentirem constrangidos por olhares curiosos.
No tocante a imperfeições, quem
me conhece a mais tempo sabe que passei por um procedimento cirúrgico anos
depois que o Sr. Cabeça de Bolinha nasceu. Fiz uma abdominoplastia antes de a
galega nascer (motivo inclusive de seu nascimento – fiquei gostosa demais!) e
isso sim, foi motivo de curiosidade de Pacotinho. Deixei claro pra ele, que eu
gostaria de ter meu corpo mais harmônico com o meu rosto, já que aparento menos
idade que tenho realmente. Sobretudo, queria me sentir confortável com a minha aparência.
Não estava. Sabe, eu não ligo pra estrias (até tenho algumas), não ligo pra
varizes, ou celulites, que acredito ser sinônimo de gostosura, só que a minha
barriga estava tão horrenda, que mesmo depois de ter operado e passado por
outro parto, hoje ela está melhor do que estava antes. E ele sabe que a mãe não
é a neurótica da cirurgia plástica. Foi realmente um corretivo e já tá bom.
A gente deve se preocupar com o
bem estar dos filhos, claro, em todos os aspectos. Se alimentar bem, cuidar da saúde,
se exercitar (tô em dívida), da cabeça e dos estudos. Os exemplos que
nós pais damos, é o que norteia a vida deles, é isso o que vai ficar e
felizmente na minha casa, os pelados estão ensinando que o corpo é um templo
onde a gente abriga o espírito e que ele tem de estar funcionando bem para nos
levar vida afora, não importa que forma ele tenha.
Fonte: Brasil Post - Por que eu quero que meus filhos me vejam nua, por Rita Templeton
1 comentários:
Flávia, eu gostei muito! Em casa tbm tinha esse papo de pecado. E mais, minha mãe sempre pintou os homens como uns selvagens, incapazes de respeitar inclusive as moças da família. Isso pq meu pai era um lord. Ele era mecânico e tinha uma oficina, mas nunca se viu foto de mulher pelada nas paredes como é (ou era) muito comum neste tipo de ambiente.E nunca se viu falar q ele tenha mexido com alguém na rua. Meu irmão tbm, mexia sim com as moças, mas dentro de parâmetros aceitáveis, herdou a oficina do meu pai e o cuidado em manter um ambiente respeitoso, que pode receber motoristas de todo tipo com seus carros quebrados, sem constranger ninguém.
Mas foi a história que venderam pra ela. Então todo mundo ficava coberto, mas sem grandes exageros, ela trocava de roupa na nossa frente (somos 3 meninas), mas não na frente do meu irmão. É o limite de cada um. Aqui em casa ninguém anda peladão pq não te o hábito, mas não tenho trancas nas portas, então pode entrar a qualquer hora. O que pra mim está por trás disso tbm é ensinar o respeito ao outro, seja quem for o outro. Temos uma cultura muito ruim, se vc quiser ir à praia de nudismo já te colocam uma conotação promíscua nisso. Em outros países não é assim, não é mesmo? Até essa coisa de vagão rosa aí no Rio, acho o fim. Todo mundo tem bunda e todo corpo é sagrado. Tornar a coisa mais natural pros nossos filhos pode significar uma quebra de paradigmas mesmo e quem sabe um futuro diferente e melhor!
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