É sabido o tamanho da transformação que a chegada de um bebê
causa na vida das mulheres. A descoberta desse novo amor revoluciona o nosso
mundo. Muitas se comportam como se possuídas fossem por um espírito poderoso
chamado “maternidade”, que passa a governar seus dias, sua rotina, suas horas,
seus pensamentos, decisões, prioridades e uma vida inteira. Esse espírito se
apossa sem cerimônia, toma conta e sem se dar conta, nós mães ficamos à mercê
de seus mandos.
Algumas moças têm verdadeiro pavor de se tornar mães, porque
ao ser mais observadoras, notam o quanto de demanda esse espírito exige e
quantas de nós se abandonam à partir de tamanha exigência, a ponto de se
esquecerem de quem eram em nome dessa novidade. Essas moças geralmente repudiam
o espírito “maternidade”, levantando bandeiras e debates contra.
De certa forma, elas têm razão. Esse espírito é muito
vigoroso e se apossa da gente. Muda nossa vida, nossos horizontes e faz a gente
se esquecer de nós mesmas. A gente se abandona, ainda que as moças não reparem
nosso sorriso de cantinho de boca e o brilho no olhar, apesar dos cabelos em
pé, das unhas descascadas e dos lapsos de memória – qual mãe não sofre de
lapsos de memória?
Por isso eu resolvi lembrá-las que para ser o “cavalo” do
espírito maternidade, é preciso se reencontrar. É preciso dar a mão a si mesma,
fazer as unhas, pentear os cabelos, se maquiar, sair com as amigas sozinha, ou
curtir a sós uma sala de cinema no meio do riso ou silêncio do drama. É preciso
viajar para visitar a irmã que agora mora em outro estado, ou perder algumas
horas no trânsito em nome do chá com a mamãe ou o café com o papai que ainda
estão vivos; é preciso ligar para a melhor amiga para contar as vitórias ou
colher um outro ponto de vista, que evite as derrotas. Para portar tal
espírito, é preciso reconhecer que nós “cavalos”, precisamos dar espaço para o
nosso antigo eu.
É vital esse reencontro. É vital parar com tudo e se
reconhecer naquela menina que nasceu há tantos anos atrás, filha de sua mãe,
sua essência. Esses encontros nos põem nos eixos, no nosso centro, no cerne da
vida, sobretudo nos põe de volta ao controle de nós mesmas. Pessoas únicas e
exclusivas nesse universo.
Depois que a gente se reconhece, fica mais fácil abraçar o
espírito “maternidade” de frente e de peito aberto. O grito dará espaço ao
diálogo, as brigas por besteira cessarão em nome da compreensão assim de bom
grado. Haverá paciência, saudade, carinho em abundância e melhor, ninguém vai
morrer durante a pausa.
É importante nos darmos o direito à pausa, assim como aos
nossos cônjuges, principalmente se eles chegarem junto e for cavalos do
espírito “paternidade”. Afinal, muitos deles ralam tanto quanto nós, não é
mesmo?
E que tal uma pausa conjunta? Que tal relembrar o tempo de
namoro, só os dois, num programa namoradinho? Pode ser o cinema, pode ser o
bar, pode ser a quadra da escola de samba, pode ser um motelzinho pros
chegados... vale tudo em nome dessa individualidade quase perdida. O que não
vale, é descontar frustração nos pequenos.
Acredite e aplique. É para o bem de todos.
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