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sexta-feira, setembro 28, 2012

O DESFRALDAR

 
Os pediatras recomendam que a criança seja desfraldada à partir de 1 ano e 8 meses de vida. Não que ela consiga automaticamente assimilar as funções urinárias e "defecárias" do dia pra noite, não é isso. Mas conta-se com o fato de ela saber o que é ficar suja. E crianças, meus caros, nessa idade tem ojeriza de se sentirem molhadas ou imundas. É assim que começa.
 
Aos quase dois anos de vida, papais e mamães estão cansados de investir em fralda. É um investimento sem retorno, baseado no amor e o único dividendo que se tem é uma  merda. Uma não, muitas!
 
Quem é pai de primeira viagem não raro arrota por aí que não vai investir numa fralda cara, porque aqui só vai levar xixi e cocô, então qualquer Dry Something da vida vale. Eu mesma falei isso na época de Pacotinho. Não entendia por que Pamper's, por que Huggies, etc. Danei a comprar uns pacotes grandes de Dry Something desenfreadamente até me deparar com a carinha de Pacotinho, sua pele sensível, aquele amor avassalador que me invadiu... Daí que fui a primeira a bradar:
 
EU BRADANDO - Nem fodendo que eu vou botar essa porcaria na bunda sagrada do meu filho!! - o forro da fralda era verde, enquanto as demais eram brancas. Começa por aí!
 
Despachei tudo pro porteiro que já havia encomendado o 6º. filho e que com certeza sendo porteiro, a essa altura do campeonato estaria cagando fedido pro fato de o fundo da fralda ser verde.
 
E assim eu entendi que não adianta economizar. O que adianta, é proteger o bumbum de quem se ama, ainda sim, não é garantia de se evitar alergia a fralda.
 
Então, o superpediatra apoia a decisão de se desfraldar após esse período doloroso de 1 ano e 8 meses desde que não seja inverno. E eu tive que segurar a onda da ansiedade até a chegada do verão no caso dos dois meninos.
 
Aí começa o tormento.
Os meninos foram assim, além de urinar no chão e fazer cocô na cueca com vc correndo atrás com o pano de chão, metendo o dedo na merda etc, tem a problemática do medo do cocô.
Tanto Pacotinho, quanto Sr. Cabeça de Bolinha aprenderam rápido a fazer xixi no piniquinho, mas o cocô... putaquelospárel!
 
Lembro que uma vez, em meio a uma negociação com Sr. Cabeça de Bolinha, para que ele permanecesse sentado  no peniquinho até o cocô sair - ele aos berros no banheiro e se debatendo e eu calmamente o segurando e negociando - Amélie Poulain, nossa gata, diante da gritaria e choradeira, começou a rosnar tal qual um cachorro em defesa de seu amo. Felizmente nesse mesmo dia, Sr. Cabeça de Bolinha conseguiu fazer e perdeu o medo. Eu não fui arranhada mas tranquei o cu devidamente, porque né?
 
Então estou bem no meio dessa fase tenebrosa com Dona Miúda.
Passei uma semana andando com pano de chão na mão, metendo o dedo no cocô que ia parar na calcinha, porque sim, ela só avisava depois que tinha feito... fiquei exata 1 semana nessa tormenta e Engraçadão foi agraciado com apenas 1 sábado e 1 domingo (e ele ainda reclamou, tá?!). Felizardo.
Bem, ao final de uma semana, ela sentou no peniquinho que fica estratégicamente próximo ao banheiro, bem no meio do caminho e fez seu xixizinho como que por encanto. Ainda no mesmo dia, toda prosa com sua conquista, danou a fazer xixi a todo momento só pra poder dar tchau pro xixi. A galega é um barato. Diz assim:
 
GALEGA - Tchau xixi, vai com Deus!
 
Eu não aguento né?
Pois num desses momentos, ela empolgadíssima fez tanta força pra sair o xixi, que acabou fazendo cocô. Foi numa sexta feira ensolarada.
Eu aplaudi, dei tchau pro cocô, passei a vassourinha no peniquinho, botei cheirinho e a ensinei a fechar sempre a tábua. Aliás, os meninos também fecham a tábua sempre, tá futuras noras? Menos um problema procês!
 
E eu pasma, estou lentamente me despedindo das fraldas depois de 1 semana. Ela ainda dorme de fraldas, mas no soninho da tarde não faz xixi e passou 3 noites não urinando na fralda também, só vindo a fazer quando o clima esfriou aqui no Rio.
 
Ou seja, eu morria de medo das meninas, eu temia ser mãe de menina, eu tinha certeza q não levava jeito pra coisa e hoje a galega está me ensinando que somos mais.
Ela está tirando meu medo, está me dando a mão e me ensinando a ter orgulho dela a cada dia mais. Principalmente, galega está fazendo todo um trabalho de resgate da minha auto-estima feminina, que durante anos da minha vida, vou amassada, embolada e jogada no lixo.
E eu só posso ser grata por isso.

terça-feira, setembro 11, 2012

VIDA EM SOCIEDADE E O PREÇO QUE SE PAGA

 
Estou terminando um exercício que sugere que do ponto de vista socioantropológico, meninos têm uma tendência natural para jogar bola desde pequenos e meninas para pular corda, ou conversar desde cedo. O que claro, é uma inverdade. Tanto meninos quanto meninas, estão aptos para bater uma bolinha e por que não (?), juntos.
 
No entanto, o padrão de nossa sociedade é masculinizar o menino desde cedo oferecendo a bola, como forma de tentar garantir sua sexualidade padrão. E à menina, dá-se uma boneca, brinquedos de casinha, etc.
Balela.
Estou eu aqui com Dona Miúda vivendo entre dois meninos, amando batons, adorando saias e vestidos e brigando pelos carrinhos dos irmãos ao mesmo tempo, disputando as bolas deles, etc. Aqui em casa, as definições de gênero até o momento, estão bem marcadas sem imposição alguma. Eles estão seguindo o caminho que se identificam, idependente de bonecos, bonecas, bolas ou vestidos.

Mas essa linha não representa o padrão vivido em sociedade.

Geralmente, os adultos morrem de medo de que seu filho ou filha escolha o caminho do meio. O diferente. Seja por preconceito, seja por amar demais e temer o pior pra seu filho, que se traduziria em sofrimento; pai ou mãe nenhuma sonha que seu filho seja gay.
Eu mesma, debaixo do meu discurso liberal e odiando hipocrisia/ discriminação, não sonho em ter filho gay. Minha orientação sexual é hetero. Ponto. No entanto, minha consciência entende que o amor que sinto por eles é muito maior que as escolhas que eu poderia fazer no lugar deles.
 
Eu escolhi transar antes do casamento. Eu escolhi não casar. Eu escolhi ter filho aos 35, mas eles vieram bem antes. Eu escolhi a minha vida e entendo que amar é deixá-los escolher o que quer que sejam, mesmo que essas escolhas não compartilhem da minha opinião.
 
Temo como toda mãe. Engraçadão teme também como pai zeloso que é. O temor faz parte da maternidade/ paternidade. A gente teme porque ama e porque quer a felicidade deles. E para viver em sociedade sem surtar, vc meio que tem q andar junto com a boiada. Mesmo afirmando que eu seja meio autista desde sempre, ter um filho excluído por uma escolha que tenha feito, é algo sim assustador para qualquer pai. Só que em pleno século XXI, é impensável na minha concepção termos conceitos arcaicos que não reconheçam o homem/ mulher como cerumano, indivíduo que é, independente de raça, cor, gênero, cultura, sabor.
 
É simples.
Basta fechar os olhos, amar o próximo e pagar o preço.
Simples.

segunda-feira, setembro 10, 2012

A IMPORTÂNCIA DE SE TER UM BLOG

 
Estava euzinha lá, sentada na frente em sala de aula, com meus zócolos hypster (é o que dizem) prestando atenção em tudo, quando a fessora nos apresentava o blog que ela em parceria com outra fessora da área de comunicação estavam criando.
 
Daí ela diz assim:
"Temos até uma blogueira em sala de aula."
E aponta pra euzinha ali esprimida na frente.
 
Então eu fiquei matutando acerca desse ser blogueira e me bateu uma vergonha atroz que me fez encolher na cadeira mais assim dentro de mim mesma, do que externamente, porque ninguém percebeu.
Eu já fui muito mais blogueira do que hoje em dia. Do tempo em que ter blog, era criar um mundo todo especial pra si mesmo, pra uma multidão, ou pra ninguém. Você podia contar a verdade, você podia mentir, ninguém questionava se era ou não, porque virtual está longe! As pessoas acompanhavam, davam pitaco, deixavam comentários em cima de algo que bem poderia ser verdade ou mentira. A gente até tinha o privilégio de se esconder atrás de um pseudônimo. Coisa q eu ainda faço com muito amor, já que estou prestando uma homenagem ao Anjo Pornográfico - Nelson Rodrigues. Hoje as coisas mudaram. Agora, usa-se nomes de verdade. Cruzes! Pé de pato, mangalô três vezes!
 
A vantagem pura e simples de se ter um blog a 8, 10 anos atrás, era cuspir nossas ideias, sermos apenas amados ou odiados, ou ainda as duas coisas. Tem gente que ainda consegue esse prodígio mesmo em tempos modernos como esses.
 
Então chegaram os caça-talentos, o Google Adsense, os publiciteiros de plantão de olho num anônimo com muito a dizer e como tudo na vida, blog virou PRO. Gente anônima ganhando dinheiro que nem gente grande e vivendo de blog. Fifty-fifty.
O meio jornalístico também descobriu que haviam muitos talentos na massa blogueira, os amantes da escrivinhação pura e simples começaram a visar lucro e perderam sua essência.
Segmentaram-se.
 
Minha irmã mesmo vivia dizendo que eu deveria ter um tema. Que meu blog estava fora do perfil para me colocar em certos freelas, porque né? Euzinha tenho uma casa que não é segmentada, não tinha teto, não tinha nada...
Só escrever bem não basta, assim como não basta saber só juntar lé com cré, coisa que eu faço bem desde sempre. Tem que ter mais, tem que SER mais. E eu não sou nada. Eu nem ao menos sei se pretendo...
 
Daí que me senti muy envergonhada quando a fessora falou em blogueira em sala de aula. Não sou PRO, muito menos sou segmentada. Posso mesmo chamar esse diarinho sem-vergonha de Blog?
Sei que aqui eu falo de música, de filme, de filhos, de relacionamentos, de festas e acontecimentos, com um único senão, todos voltados pra minha vida, como se eu fosse ALGUÉM. Aliás, os blogs de raiz tinham esse poder, de fazer a gente se sentir alguém. Só que com tanta modernidade, descobri que eu sou ninguém praticamente, se levarmos em consideração que o blogueiro de raiz morreu.
E o maior problema, é que eu só sei fazer assim. Tenho um olhar sarcástico e bem humorado sobre as coisas. Até na hora de falar de aula, eu boto uma pitada de sacanagem, sem querer ofender ninguém claro.
Chamo professora de fessora, adoro ressaltar os bafos que rolaram, dou ênfase na escrotidão humana, eu sou assim e foi pra isso que criei o blog. Mas posso continuar a chamá-lo de blog mesmo?
Só porque tenho 8 anos initerruptos de escrivinhação, tenho ainda esse direito?
 
Pois é, são mais perguntas do que respostas. De toda forma, acho legal a faculdade estar provocando isso em mim. Essa reflexão acerca do universo ao meu redor. Ela está sacodindo meus alicerces pra valer.
Eu só espero que a fênix ressurja das cinzas e vença no final.

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