Não me perguntem qual foi o buzz gerado pelas fotos da Cindy Crowford, 48 anos, mãe de dois filhos, ao sair na Marie Claire gringa, com a barriga à mostra e sem photoshop. Exigência dela. Sei que deu o que falar, mas não sei o que disseram. A mim, não importa o que os outros dizem. Importa como me sinto em relação a isso.
Acho mesmo que está na hora de as pessoas pararem de fingimento. Mulher de 80 se esticando para parecer ter 30, resultando numa cara de morta-viva, repuxada, artificial e assustadora. Não me refiro aqui, àquelas que REALMENTE necessitam de cirurgia, porque há casos e casos. No entanto, assim como virou moda a dieta da sopa, a cirurgia bariátrica, o remédio mata rato pra secar e os milhares de Whey Protein que nego toma, porque todo mundo toma, é hora de repensar a mensagem (claro e sempre), que estamos passando pros nossos filhos e pras nossas filhas.
Pensa bem. Quando você luta por uma aparência dentro dos padrões, mesmo sabendo que terá de fazer sacrifícios demais, ainda que suprima o prazer da sua vida, que tipo de mensagem está passando pros meninos?
- Que mulher boa é a que tem barriga tanquinho?
- Que a mulher que tem rugas ou cabelos brancos não prestam?
- Que a estética deverá ficar em primeiro lugar, acima da boa índole, de uma mente sã, ou de uma pessoa bacana por trás da aparência?
- Que basta ser magra e sarada pra ser aceita, enquanto as separadas, viúvas, com rugas e histórias de vida; que são agradáveis, belas mulheres e bem resolvidas se fodem aê né?
Bem, para as meninas a mensagem é cristalina: NÃO ENVELHEÇA, SEJA BELA A QUALQUER CUSTO, COSTURE A VAGINA SE FOR PRECISO PARA PARECER MAIS NOVA. Afinal, tem mulher fazendo correção vaginal para ficar com a xana novinha, então tudo pode, certo?
Errado. Eu e Cindy Crowford (mais algumas mulheres que não conheço, mas que vivem de forma igual) escolhemos dizer não à ditadura do corpo perfeito.
Não nasci na Grécia antiga e nem nunca fui estátua, pra ser aquela perfeição toda. O perfeito não existe, meus caros. Tenho três filhos, já passei dos 40 e por conta das limitações que o peso da idade me imputa, passei a malhar em casa, para conseguir acordar quando o relógio toca e aguentar as brincadeiras, que crianças abaixo dos 10 anos exigem.
Não me iludo quanto aos cabelos brancos que me cercam. Aliso-os, por uma questão de tempo e logística, faço umas mechas para me sentir bonita, mas cobrí-los, não mesmo. Penso seriamente em raspar tudo, depois que meus filhos estiverem criados, para então libertar meus cachos. Um dia chego lá.
Minha filha que já nasceu linda e gostosa nessa ordem, nunca ouviu de mim que não poderia comer isso ou aquilo para não engordar, nem ao menos ouviu minhas lamúrias sobre peso, ainda que eu faça cara feia internamente. Não é problema dela.
Meu biquini, como de toda boa carioca, é de lacinho, com as bandas da bunda aparecendo, obrigada. Se elas têm celulite? Tô nem aí. Minhas celulites são um sinal de que comi os hambúrgueres com bacon e ovos que quis e as cervas de fim de semana ao lado do meu marido (de barriga tanquinho). Inclusive, não me privo de nada, nem do miojo.
Claro, que ir à praia no Rio de Janeiro é um processo. Você olha pro lado e vê mulheres lindas e lembra que um dia seu corpo foi assim e tals, só que o nome disso, de uma maneira geral, é juventude. Poucas mulheres agraciadas com a maternidade, ou com um bando de filhos têm tudo no lugar. Se têm, depois de uma certa idade, um dia vai cair. É a lei da gravidade. Então se a gente não se amar e não ensinar nossas meninas a fazerem o mesmo, essa doença não vai acabar nunca.
Quero menos mulheres mal resolvidas no mundo. Quero meninas que se achem lindas magrinhas ou gordinhas. Quero mulheres seguras de si, muito embora acredite que se trate de uma utopia, já que as criações são diversas. Mas que pais e mães pensem bem antes de abrir a boca, tecer comentários machistas ou irreais acerca do corpo da mulher perto das crianças. Que tenham consciência.
Já reparou como somos muito mais generosas com os homens? Já reparou como a gente aceita o outro careca, com barriguinha de chopp, baixinho, longe do ideal das revistas? Pois é. Então por que que com a gente não pode ser do mesmo jeito? Tá na hora de parar de fingir. Tá na hora de se aceitar. A começar pelas mulheres que se deixam aparecer com photoshop até no couro cabeludo.
Por isso, palmas para Cindy Crowford, palmas para Cléo Pires, que quando saiu na Playboy recusou esse artifício, palmas para as agências de moda que contrataram aquela modelo com vitiligo, palmas para as pessoas de verdade, que têm coragem de mostrar algo muito simples, a verdade de seu corpo e a força de suas crenças. Por menos tratamento de imagem e mais realidade, por favor.
Fontes:
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