E contrariando as expectativas, eu informo que tenho mãe sim!
Ano passado não disse nada a respeito dela, de seu aniversário, das conversas, dos risos, das rusgas. Mas esse ano decidi falar.
E não vou mentir.
Existe muito amor na nossa relação. Se eu fosse outra pessoa e olhasse lá de cima prá nós duas, eu diria que existe amor sim.
Mas aquele amor mais difícil de se conviver, mas que ainda sim, existe e persiste.
Nós não falamos a mesma linguagem, definitivamente! Ela diz alhos e eu entendo caralhos e vice-versa.
Temos idéias contrárias, discordamos em quase tudo, por isso mesmo insisto em dizer que é amor, porque em todo esse tempo de existência, nenhuma das duas desistiu.
Às vezes me sinto falhar.
Às vezes acho que me dedico muito mais a agradar as pessoas do que a minha própria mãe.
Sempre batendo de frente... sempre batendo de frente... sem entendimento.
Às vezes me pego ao telefone insistindo em entender seus argumentos, suas lamúrias, reclamações e dores, mas confesso. Prá mim é muito difícil.
Porque é da minha natureza ser prá cima. Ser positiva, ser alegre e fazer as pessoas alegres. Não ter pudores em falar meus caralhos e minhas bucetas. E daí se eu falo?? Por isso sou puta?? Não, acho q não.
Houve um tempo, em que acreditava que nunca casaria, que nunca teria filhos, que seria eternamente da farra, da música e da dança.
Me via inteiramente sozinha, porque o protótipo de esposa correta e reta e dedicada, estava lá sem seu marido.
E como? Me digam como?? Logo eu, a Srª Esculhambada daria certo e alcançaria esse sonho de família (nem sempre meu!)??
E estou aqui. E conquistei. E estou dando certo, com um filho liiiindo ao meu lado.
Eu sempre fui a ovelha negra e a errada.
Talvez por isso, nunca mencionei palavra sequer sobre ela. A minha genitora.
Aquela que não concorda, que não elogia, que apóia à maneira dela, não a minha.
Aquela que presenteia com 50% de críticas, porque tudo deve sair do jeito dela, do jeito q ela acha certo.
Minha amada mãe, é virginiana. Coisa q me fez ter pavor desse signo por muito tempo, até entender que cada pessoa é de um jeito.
Controladora, organizada ao extremo (perto do TOC* eu diria!!), dominadora, mas careeente, terna, amiiiiiga, sozinha.
Minha mãe, meu grande desafio, nasceu em 18 de setembro.
Não sei o que isso significa, mas vovó dizia que quando ela veio ao mundo, seu cabelo já era repartido do lado.
Contava também, que ela gostava muito de dormir e não gostava que ninguém ficasse mexendo muito nela, porque já naquela época, gostava de controlar. Tinha q ser do seu jeito, as pessoas é q não entendiam direito, oras!!!!
Lembro de uma foto, que está guardada lá em casa e quando a olho, tenho certeza que todos esses conflitos, só contribuem mesmo para o nosso crescimento. E mais, que não são em vão. Nunca são.
Mas essa foto, sintetiza a razão pela qual trilhamos os caminhos juntas, unidas e afastadas por um laço tão forte q é a maternidade.
Olho essa foto e sinto vontade de chorar, por dimensionar o tamanho do amor que ela sentia por mim, quando a foto foi tirada.
Sim. Ela me amou. E por mais que sua forma de amar não seja a ideal prá minha percepção, ainda sim, o amor existia ali. Beeeem nos primórdios.
Queria ser como a
menin@, como a
Fé, que ao falarem de suas mães, falam de mulheres que são amigas, que chegam junto, que dão colo, beijo, afeto até transbordar, que se anulam pela felicidade delas.
Bem, o amor q eu ganho é diferente. E o amor que eu dou, também não agrada muito minha mãe. Mas estamos aqui p/ aprender afinal. Ou não??
Dizem que mais se amam, os que mais batem de frente/ se enfrentam. Talvez seja uma forma egoísta de amar. Então não é amor??
Eu quero lembrar das coisas mais lindas dos momentos c/ minha mãe.
Dos cabelos dela, fartos, lisos, caindo pelos ombros, tal qual uma índia cosmopolita. Mais bonita até.
Gosto de lembrar da minha mãe dançando, de quando era cortejada na rua, mesmo na minha frente.
Quando ela se arrumava para ir trabalhar e passava maquiagem no rosto e eu ficava ali admirando-a e dizendo q ela, era a mãe mais linda do mundo.
Gosto de lembrar que eu dizia, q quando crescesse não a deixaria de lado, sozinha (infelizmente minha mãe não gosta de drogas pesadas q nem eu... essa não deu p/ cumprir!)
Gosto de recordar das vezes que ela deixava eu escolher uma roupa p/ ela na loja, sem ficar dando pitaco. E quando ela usava a roupa, por mais q não se sentisse bonita, todas as pessoas a elogiavam e diziam q ela caprichou.
Eu gosto quando ela concorda comigo, infelizmente é raro isso acontecer.
Gosto de pensar que um dia, a gente vai se olhar e ver que tentamos tudo e usamos do nosso melhor de uma para outra.
Quero que quando esse dia chegar, não hajam arrependimentos nem lamentações. Só concordância e compreensão.
Eu sei mãe, q vc não vai ler esse post. E sinceramente acho melhor assim. Vc não entenderia, julgaria mal.
Mas não é julgamento, o q eu faço aqui é mais um desabafo e uma conclusão precipitada. Não posso concluir o q não acabou.
Por isso, o beijo na bunda de hoje, é só seu.
Eu sei q vc vai ficar c/ nojo e dizer q eu sou desbocada, mas não se preocupe. Eu sou sua filha assim mesmo.
Sou parte de vc, mesmo não sendo aquilo que vc idealizou.
TOC* - Transtorno Obcessivo (não sei escrever essa porra!!) Compulsivo