Chego 15min depois porque não estou mais acostumada a andar de ônibus e o tal BRS que não reparei direito no Google Maps, acabou me confundindo.
Na sala de espera, uma menina com duas bilhas azulonas, cabelo da Gisele Bündchen, ao menos 10 anos mais nova e com umas tatoos espalhados pelo corpo, so fucking cute, que o primeiro pensamento que me veio à cabeça foi: PIRANHA!
Não fazia ideia da empresa que estava indo porque a ligação do dia anterior estava péssima, a interlocutora tinha sotaque nordestino, então perguntei:
EU - Que empresa é essa?
DIMENOR (com aquela cara de: quem é essa loka) - É a empresa blá-blá-blá 1,2,3,4. (Só faltou falar óbvio!)
Não gostei de ver uma concorrente na sala de espera.
Tratei de entrar no google pelo Iphone e tudo o q consegui foi o resultado das buscas com aquele nome e informações básicas tipo o ramo de atuação, quantos anos estão no mercado e avalie esta empresa. Ou seja...
A porta se abre e chega mais uma candidata.
Essa, uns dez anos mais velha que eu, dez minutos mais atrasada, hair style não tenho tempo de cuidar porque estava no trânsito e moro longe, não falemos do shape porque não tem nada haver e eu não sou exemplo de porra nenhuma... ambas simpáticas.
EU - Será que eles vão entrevistar todas juntas?
ELAS - Parece que sim!
EU - Nunca vi isso, a não ser pra vaga de operador de telemarketing, não pra secretária! (já me sentindo uma operadora de telemarketing).
Entra a entrevistadora.
Leeeeenda, deslumbrante, loura e inteligente (ou seja, absurdo) e nos chama todas juntas para entrar!
Ela se apresenta, diz que será um bate-papo, que quer ouvir um pouco da experiência de cada uma e que poderemos trocar ideias.
Quase peço pra tirar foto da vista da sala de reunião, mas meu Iphone estava com apenas 5% da bateria. Me contenho.
Ela perguntou a todas se entramos no site da empresa e a Dimenor e eu assentimos.
A Dimenor deu um olhadão pra minha cara-de-pau quase que boquiaberta.
Eu entrei ué?! Só não abriu!
Então ela começa pela dimenor:
DIMENOR - Tenho 23 anos, estudando psicologia, me formo em 3 anos, quero fazer criminal, quero ser secretária, trabalhei pra Petrobras (foda-se), minha família tem advogados criminalistas (outro foda-se, tô cagando, o cargo é para se-cre-tá-ria!), o Inglês é quase minha segunda língua, acabei de voltar da França e lá conheci muita gente que falava espanhol então pude treinar as duas línguas (PIRANHAAAAA!!!), moro aqui no Leblon (EU TE ODEIO, TCHAU!).
Eu tinha razão de odiar essa garota. Apesar de ter um cabeção que denotava sua origem nordestina, aquele cabelo, aqueles olhos azuis e aquelas tatoos nunca me enganaram. Ela ia me foder!
A entrevistadora perguntou por q ela morava com o irmão, por q ela queria ser secretária, falou com ela sobre o livro Mentes Criminosas e a PIRANHA disse que não tinha lido ainda, mas arrotou o nome da autora.
Nessa hora tive ímpetos de me atirar pela janela.
Então ela se voltou pra mim.
Eu lá pheena.
Não tenho curso de Inglês, não tenho cabelo bonito, não tenho olho azul, não moro no Leblon, nunca saí do Brasil caralho e ganho mal pra cacete!
Ela foi no ponto nevrálgico!
A MOÇA DO RH - Mas Engraçadinha, vc está saindo da empresa depois de 8 aaaanos?
EU - Pois é, não estava feliz. Apesar de geral uma imensa satisfação na equipe com que trabalho, com minha chefia direta, o reconhecimento não veio ao longo desses anos e eu comecei a não lidar bem com o fator estagnação.
A MOÇA DO RH - E como assiiiiiiiim, vc trancou a faculdadeeeee?
EU - Pois é, eu tranquei por um bom motivo. Troquei a faculdade por um apartamento. Meus pais se mudavam muito quando eu era pequena e era triste desfazer os laços de amizade, então eu cresci sonhando em ter meu próprio apartamento e a oportunidade apareceu justo quando eu estava voltando pra faculdade. Depois vieram os filhos, o tempo passou e só agora terei oportunidade de voltar.
Então discorremos pelos motivos que me fizeram querer sair da empresa, sobre minhas responsabilidades do cargo, minhas motivações e eu sempre muito pheena e convincente, usando aquela linguagem bonita que eu reservo só para as entrevistas e tals... me senti bem, me senti pheena e importante, apesar de fodida.
Ela me perguntou se eu sinto medo pelo fato de meu currículo não ter uma facool e como está a resposta do mercado em relação a isso.
EU - Não, estou me sentindo tranquila, apesar de não estar participando de muitas entrevistas. Mas estou muito confiante, porque agora que eu decidi o que eu quero, com apoio da minha família e voltando aos estudos, basta que as coisas aconteçam. Claro, não está fácil, meu telefone não toca muito, mas eu vou estudar e continuar procurando por trabalho. Mesmo que não seja da maneira convencional.
Então ela foi pra outra candidata. A que fala pra caramba.
THE OLDEST - Formada em Comunicação, tenho curso técnico em RH, técnico em secretariado, trabalhei na embratel por 23 anos, pedi pra sair porque também não estava feliz e comecei a adoecer (VAGABUNDA, ME IMITOU NA FRENTE DE GERAL!), trabalhei no governo do estado, depois assim, assado, adoro estudar, tenho 2 filhos, blá, blá, blá, sou phoda!
Nesse ínterim, a moça do RH pergunta se ela sentia o preconceito de outros empregadores pelo fato de ela ser mais velha e não se encaixar nos padrões de estética (CHAMOU DE VELHA E FEIA). Ela respondeu e contando sobre sua vivência deu uma derrapada que eu a-mei!
Primeiro ela disse que não sabe só fazer o que lhe pedem. Que ela vai além. Uma palhaça, só porque eu disse que eu costumo não errar e foi isso que me destacou nessa empresa.
E é verdade. Eu erro sim mas geralmente descubro antes e conserto rapidamente; além disso, fui tão acostumada a trabalhar com qualidade, que eu visto a política do erro zero. Deixei isso claro. Daí a outra me vira e manda essa. Que vai além, que ajuda geral e tals, que não sabe negar pedido alheio.
Até aí tudo bem, mas o jeito que ela falou, ficou parecendo que ela é dessas que interfere no trabalho dos outros. Ao menos eu tive essa impressão. Até que ponto isso é bom? Mas a mulher é suuuper qualificada, não posso dizer q não seja.
Outro lance que ela disse, foi que quando trabalhou em RH, não se conformava com as disparidades salariais e isso lhe abateu emocionalmente e assim foi desmotivando. Nessa hora eu ri alto por dentro. Até a moça do RH soltou que desde q mundo é mundo complete a frase!
Ela foi infeliz ao soltar que os departamentos menina-dos-olhos ganhavam mais, em detrimento de outros que ralavam mais.
Ah fala sério! Com 50 anos e um currículo de dar inveja ela ainda não sacou que isso tem em todo lugar? Pelamor... até meu filho mais velho sabe disso.
O papo foi agradável, disseram que o processo vai até 15 de junho porque querem estar contratando para Julho. É para atender a 3 diretores e o salário é razoável. Acho que daria pra manter a galega além dos garotos no integral, além da faculdade. Mas não sei se eles vão me chamar.
Sinceramente não acredito irão. Não que eu não acredite no meu potencial. Foi o que eu disse, a dificuldade hoje está em as empresas apostarem a ouvir aquele que não tem graduação. Eu estou concorrendo com um monte de gente mais nova e mais qualificada. Como provar que sou boa, sabe?!
Se ela gostou de mim e resolver passar meu currículo adiante, ainda sim, terei de conquistar outras 3 pessoas. Um pai e dois filhos. Então vamos deixar rolar.
Eu não estou ansiosa. Enquanto isso vou sonhando com as aulas de Produção em Marketing, com dinheiro jorrando na minha cabeça pelos trabalhos que farei, com meu nome sendo reconhecido...
Que vença a melhor.