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quarta-feira, maio 10, 2006

TREINAMENTO DE FOGO OU QUASE

Naquele dia, os anjos acordaram e receberam uma grande missão.
Não sabiam ao certo como fazer acontecer, mas era fato que deveria ser executada. A parte pertinente a eles, deveria ser cumprida sem questionamentos.
Eles não ousavam discutir assuntos daquela importância. Eram ordens superiores e deveriam ser cumpridas à risca.
Ficaram sismados, se entreolharam, levantaram a sobrancelha e por fim deram de ombros. O que se havia de fazer?!

Abriram o pergaminho e o nome estava lá gravado c/ letras de ouro: Pacotinho.
Deveriam fazer uma breve demonstração do quão violenta é a cidade onde Pacotinho vive. Nada muito sério. Sem sangue, sem arranhões, só o de praxe: Medo, revolta e por fim humilhação.
E assim, com facilidade, puseram dois adolescentes no caminho do Pacotinho, a roubar um objeto de sua mãe. Eles não estariam armados.


***

Naquele sábado, minha alma estava leve... afinal, estava de férias!!
Engraçadão pegou plantão no fim de semana, o que deixaria esse primeiro sábado meio sem graça. Sem problema, eu estava de féééériaaas.
Pacotinho queria porque queria sair. Dar um rolê, que para ele significa andar de ônibus. Eu não tinha i-déia de onde poderíamos ir, por fim achei que uma visita a
Sapinha não seria má idéia.
Ao telefone, ela concordou e nós fomos.
Nos divertimos bastante lá. Gravamos DVD do S.O.A.D, abocanhei dois da Vanessa Mae sem esperar; estava numa ressaca braba, daí, a sapinha fez uma massa daquelas, ao sugo, que eu devorei 4 pratos. Dá p/ acreditar?! Pois é verdade!!! Não preciso dizer q estava divino...
Saímos de lá c/ destino certo ao salão de beleza. Sim, todo sábado eu tenho manicure. E não falto de jeito nenhum! Senão minha unha quebra, esfacela, fica igual a garra de gavião. Um horror!!!

Pacotinho se comportou como um lorde. Trocamos juras de amor durante todo o trajeto de volta. Não perdíamos um avião ou helicóptero que riscava o céu.
No salão, como sempre, ele grudou num cabeleireiro chamado Jesus, que vive cheio de balas. Todas as balas q eu não deixo ele comer, ele tira a forra c/ Jesus. E Jesus adora criança; também é super engraçado...

Como demos rolês consideráveis de ônibus, eu decidi voltar do salão à pé. Queria mesmo esticar aquele momento até encontrarmos Engraçadão.
Minha vontade era chegarmos depois dele, porque Pacotinho adora voltar p/ casa e encontrar o pai lá.
Assim, viemos devagar conversando, rindo, cantando "ela só pensa em beijar..." - ele adora essa música - e eu só aprendi por amor a ele!
Já próximos de casa, eu conversava distraídamente c/ Pacotinho sobre o jantar, quando avistei dois moleques a frente na esquina da minha rua.

MULEQUE FILHO DA PUTA 1 (quase sussurando) - Aí, perdeu, me dá o celular.
EU - Quê????
MULEQUE FILHO DA PUTA 2 - É isso mêrmo q tu ouviu, passa a bolsa.
PACOTINHO - Que foi mãe?
EU (tentando pensar rápido - impossível...) - Péraí!! (tentando ganhar tempo - Minha vida estava dentro da bolsa... só não tinha dinheiro p/ variar!)
MULEQUE FILHO DA PUTA 2 - Bóra!Dá a bolsa logo, porra!!!
MULEQUE FILHO DA PUTA 1 - Dá o celular. A gente só quer o celular. Anda!! (ele segurava um pedaço de antena daquelas que ficam no telhado das casas)
PACOTINHO - Nããããão. Larga a minha mããããnhê!
EU - Péraí porra, eu tô c/ a criança. Péraí.

O menor ameaçou me porrar e eu afrouxei o braço. Não queria q o Pacotinho presenciasse mais uma cena escrota, já q eu temia pela sua integridade. Eu não podia reagir, não podia fazer nada.
Ele pegou a bolsa e o outro imediatamente largou a antena.
Pacotinho caiu de joelhos no chão gritando "devolveeeeee, é da minha manhê, nãããããoooo e eu quero meu pai - aos prantos."
Eu não tinha mais nada p/ lutar. Numa mão estavam minha bolsa e merendeira dele, na outra a mão do meu filho... eu larguei ele no chão e comecei a berrar por "socorro - polícia - pega ladrão" até eles sumirem na outra esquina.
Naquele momento eu só tinha a minha voz.
E Pacotinho chorava no mesmo chão. Com ódio.
Eu vi ódio brotando dele.

Em seguida passou uma senhora e me avisou que a bolsa estava no chão. Fui lá pegar correndo e graças à Deus, estava tudo lá exceto o celular.
Aí eu chorei de ódio pelo meu filho.
Deixei ele na portaria e fui correndo a outra rua, em busca de uns PM's que fazem blitz ali perto, mas ninguém estava nesse dia.
Voltei p/ casa.
Pacotinho ainda chorava e pedia p/ subir.
Eu não conseguia ligar p/ a Vivo p/ bloquear o celular, não conseguia me lembrar de nenhum número de telefone, até q disquei alguma coisa e por sorte era a casa da Oráculo.
Ela entrou em contato c/ a Vivo e tomou as providências.
Depois q Engraçadão chegou, fomos à delegacia prestar queixa e eu agora figuro as estatísticas de roubo de celulares da Muda.
Pacotinho perguntava ao pai a todo momento o por quê, mas todas as respostas pareciam inúteis.
Perguntou tanto, tanto, que acabou adormecendo nos braços de Engraçadão na delegacia. Melhor assim.

No dia seguinte, fomos p/ a casa da Oráculo afim de esquecer e funcionou.
Agora está tudo bem, mas ele ainda não entende o porque daquilo ter acontecido.


***

No momento em que tudo tomava forma aqui na Terra, os dois anjos vinha p/ a Muda na velocidade do pensamento.
Um amparava a mãe do Pacotinho, garantindo lhe serenidade p/ não agir impulsivamente e fracassando suas missões.
O outro anjo, amparava os pequenos ombros do menino.
Pôs uma luz azul em sua fronte e induziu-o ao sono p/ que a palestra sobre o ocorrido transcorresse sem problemas no alto.
Pacotinho depois de todas as explicações, regressara a seu corpo físico sentindo-se melhor e no domingo seguinte não tocara no assunto durante todo o dia.
Em sua sabedoria de criança, sabia que haveria hora apropriada p/ novos porquês, depois que o amigo tempo passasse.

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