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segunda-feira, janeiro 13, 2014

MUDANÇAS: A ESCOLA PÚBLICA


Pensando aqui com meus botões, é possível que fosse lesada, não soubesse me defender direito. Talvez porque não tomasse o outro por inimigo. Talvez por não julgar o povo pela capa, talvez por aceitar desde muito cedo, as pessoas como elas se apresentavam a mim. Só não ia com a cara de alguém se ela "se traísse" de alguma maneira. 

Estou voltando no tempo. Na época em que estudei em escola pública. A história, acho que já contei. Minha melhor amiga havia saído da nossa escola, a particular, para estudar numa escola municipal perto de casa, porque os pais dela, separados, estavam passando por dificuldades. Minha família não. 
Eu podia ficar sem qualquer coisa, menos sem a minha amiga. Então não perdi tempo. Depois de uma corrida inclusive no MEC para tentar ir para a mesma escola que ela, eu, do alto dos meus 12 anos, fui sozinha à escola em que ela estudava, mandei um caô na secretaria e acabei sendo aceita. Não me perguntem como uma criança de doze anos é capaz de convencer um adulto a se matricular numa escola que já não tem vaga, na base do caô. 
Eu consegui. O problema, é que só conseguimos ficar juntas por um dia. Os pais da amiga, convenceram a escola particular a aceitá-la de volta, negociaram e a minha amiga voltou e eu fiquei.

Conto essa história, porque eu e Engraçadão estamos passando por uma fase difícil. Engraçadão anda sob forte tensão e seu humor anda nas picas das galáxias dos universos saltitantes. Anda longe, não o culpo. 
Eu sempre ajudei em casa. Há quase dois anos sem fazê-lo, ele se sente perdido e desesperado. Daí que sugeri que tirássemos os meninos da escola particular. Foi no meio de uma discussão daquelas que a gente não sabe nem porque começou. Aquele tipo de discussão de casal bem surtação mesmo! Então eu soltei a bomba, partindo da premissa de que sobrevivi à escola pública, ele próprio sobreviveu, minha irmã também, dentre tantas outras pessoas de bem. 

Engraçadão calou. Ensaiou um não, não... mas eu fui firme. 
Pensa, não tem como a gente fingir que está tudo bem. Nem com estágio entrando, Janeiro é um mês peludo. Engraçadão que saiu de férias e conseguiu tapar o rombo, não passaria de fevereiro a voltar pro rombo. A iminência disso acontecer o estava deixando surtado. 
Como sou uma solucionadora nata, mesmo sendo inimiga da matemática, quando me dão um problema, eu resolvo, ainda que chore, ainda que doa. 

E choro? Teve muito. 
Pacotinho ouviu a discussão da cozinha e deprimiu de imediato. Argumentou que não queria deixar os amigos, que não queria sofrer bullying... claro, está com um olhar cheio de preconceitos, só que naquele momento, nem eu tinha um argumento pra detê-lo. Ainda mais com meu histórico em escola municipal, da que sofreu bullying por um longo período, da que viu coisas cabeludas, da que foi perseguida e ainda sim, escapou da surra. Não ousei falar sobre tais coisas com ele, porque percebo a mudança nas gerações. Acredito mesmo, que existam escolas onde bullying não entra. E mais! Acredito que bullying não seja exclusividade de escola pública, mas muito mais um problema das particulares, guardadas as devidas proporções.

Daí que acordei com uma ideia na cabeça. Primeiro fiz um post lamento no Facebook, porque né, é o hábito. A gente vomita coisas lá. Depois tomei o café da manhã determinada a ir em seguida, chorar as pitangas nas escolas de perto de casa. 

Falei com algumas pessoas que me aconselharam começar pelo Pedro II, onde Pacotinho fez a prova eletiva para o 6º ano (e não passou na 2ª fase). Fui na unidade da Tijuca, pingando de suor, contudo eles centralizam o processo em São Cristóvão. Voltei pra perto de casa com minha cabeça, ou meu coração sei lá, martelando que eu conseguiria alguma coisa nas municipais mesmo. 

Dito e feito. A melhor escola das redondezas, que inclusive não adere às greves, me recebeu e orientou. Infelizmente Pacotinho não poderá ir pra lá, pois houve uma redução nas turmas de 6º ano, todavia o Sr. Cabeça de Bolinha poderá ir. 
Já a Dona Miúda vai continuar na particular por enquanto, já que é muito nova.

Conversando com a diretora, me emocionei e rolou um chororô básico. Não por vergonha de estar dura recorrendo ao ensino público. Eu acredito que muito do aprendizado, quem faz é o aluno. Se o aluno não estiver a fim, não adianta você colocá-lo na melhor escola do universo, que ele não vai render e vai te boicotar. Mas pelo fato de Pacotinho deixar seus amigos para trás. Nós sabemos que ele fará novos amigos, sabemos o quanto ele será querido, já que é carismático, é gente boa e mega comunicativo. Mas são anos e anos de convivência diária, amizade e história juntos, que ele terá de se despedir. Além do mais, os amigos verdadeiros vão ficar, ele vai ver.

A gente sabe o quanto a vida é feita de mudanças o tempo todo. Muito embora ele não goste, terá de se adaptar desde cedo a elas. 
Ainda temos de saber reconhecer a misericórdia divina, que atenua nossas quedas. Aqui em casa, quando a gente cai, nunca é de cara, porque a gente não planta o mal. A gente só quer viver dignamente. Então a gente tropeça, cai de bunda, mas levanta, limpa a roupa e segue em frente.

Essa diretora que conversei, me indicou três escolas muito boas. Escolas pequenas, cujo controle sobre o que acontece é maior. São escolas quase invisíveis, onde o ensino é bom e a clientela idem. Fiquei mais tranquila e esperançosa, inclusive pretendo visitá-las amanhã com Pacotinho, para que ele sinta o clima e escolha a prioridade das três em que vamos inscrevê-lo.

E para os pais cariocas que pretendem matricular seus filhos numa escola Municipal de seu bairro, o processo agora é informatizado. Basta entrar no site Matrícula Digital entre 29/01 a 04/02/2014 (já é a terceira e última oportunidade), escolher três escolas em ordem de prioridade, preencher o cadastro e aguardar o contato, através de email ou celular. Esse contato informa para qual escola seu filho vai. 
Existem escolas que funcionam em período integral, outras disponibilizam merenda, uniforme escolar, Riocard e material didático. 

No nosso caso, vai significar muito, já que agora em janeiro além da matrícula escolar dos três, teríamos de comprar material escolar também, o que foderia a bicicleta de vez e provavelmente provocaria um infarto em Engraçadão. Conversando com funcionários das escolas que fui, ouvi uma senhora idealista tentando me consolar, dizendo que a classe média tem de voltar para a escola pública. Só assim, o governo do estado será cobrado o suficiente para promover melhorias. 
Gostei dela! Infelizmente acabamos não nos despedindo.

Hoje Pacotinho acordou melhor e mais conformado. Depois do meu passeio matinal, passei mais segurança a ele e o lembrei que lá, será possível conhecer várias néms que se tornarão suas fãs e amigas. 
Ele riu. 

7 comentários:

Unknown disse...

Fala pro Pedro se acalmar, é apenas uma questão de tempo... Saudades tia Bjos

Pripa Pacheco disse...

estudei em escola municipal xinfrim e fiz meu segundo grau em escola estadual (ISERJ, na mariz e barros aí na tijuca, considere essa escola tb, principalmente pra Lola), e passei na minha primeira tentativa pro vestibular da UFF, consegui bons empregos.
A gente não tinha grana pra pré vestibular, então eu não fiz. Mas fui criada numa casa que ler e ver jornal nacional na tv era obrigação. Depende mais de vc manter o nível intelectual alto nos meninos do que a escola.
Não é o fim do mundo, meninos vão fazer novos amigos e virarem adultos mais safos, que não se deprimem com qq coisinha na vida adulta e, principalmente, aprenderão a vida como ela é.
Beijos e fica bem!!!!

Gisele Liberato disse...

Flavia, aqui em casa esta decisão foi tomada há alguns anos atrás. Na época, além de um pequenino de 04 anos que iria encarar a dureza da educação infantil na escola pública, tínhamos um pacote-bebê de 01 ano e pouco que iria cair nas garras do maternal de uma creche pública com todo o preconceito e medo que este título oferece. Também choramos, também relutei. Lembro que na última festinha da creche particular eu pensava como era uma mãe cruel e incapaz por privar meus filhos de tudo aquilo. Como você também procuramos as melhores escolas, fizemos pesquisa, matrícula na internet e ainda rezamos por um sorteio na creche (sim, sorteio, pois o número de vagas é menor que o de inscritos). Hoje, passados alguns anos, digo com certeza que a escola pública em nada me ficou devendo a escola particular. Em alguns casos,foi bem melhor para os meus filhos que hoje são descolados e desenrolados (as vezes até demais). Este ano conseguimos colocar os dois na mesma escola e Bê se despede da creche e dos amigos que cresceram com ele, mais uma mudança. Ah, a escola em questão é a primeira no IDEB do 5ºao 9º ano e a segunda do 1º ao 3º ano, ou seja, excelência é possível também na escola pública. Bjs

Jorge Nunes Chagas disse...

É muito legal essa experiência que você tem passado com os seus filhos e o que é ser mãe no sentido mais literal da palavra. Você aprende, ensina à eles e acaba, consequentemente ensinando até a nós leitores. Desejo que eles se deem bem nas escolas e que possam usufruir o melhor dela. Quanto ao seu texto, parabéns! Por trás dele nos sentimos perto de você pela característica intimista que o blog imprime! Continue assim!
Bjs

Magui disse...

Escola pública o fará mais esperto, generoso e não vai dever nada.Quando meu marido morreu , coloquei meus filhos na escola pública e até melhoraram. Realmente, com estes testes do governo para medir sapiência, percebe-se que a diferença é mínima.E, o futuro a Deus pertence.

Unknown disse...

Calma, beth, calma. no andar da carroça as melancias se ajeitam. é a lógica da vida.
Vai ser bom pros moleques, vão viver outra realidade, vai "desapertar" o orçamento... o valor que as escolas particulares vem cobrando é abusivo.
Tem creche cobrando quase o valor de uma faculdade, uma coisa de louco, guria.
Sorte & Saúde pra todos!

Cris disse...

Amiga decisão deve ter sido difícil... temos medos do que nem sabemos como é... aqui quando matriculei Joseph na creche da prefeitura me disseram tantas coisas ruins e hoje na prática, no dia a dia com ele só colhi coisas boas... bjs

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