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sexta-feira, outubro 06, 2006

C'EST FINIT

Eu queria ter coisas boas p/ dizer, mas infelizmente não posso.
Eu constatei uma grande verdade, que talvez até muitos já saibam.
Nós não somos nada.
Que a nossa fragilidade é imensa diante da morte. E só através dela, nos humanizamos.
Perante a dor da perda, a gente é solidário, é irmão... é melhor.



Desse grande nada que somos, nos julgamos ser alguma coisa.
Aah, nos julgamos ser muito.
Muitas vezes. Repetidas vezes, dias e semanas.
Nos julgamos superiores todos os anos.

Mas somos mesmo, grandes nadas ambulantes.

Podia ter sido um dia normal, como outro qualquer.
Um dia com solzinho frio de manhã, irmã tagarelando no banco de trás, risos e brincadeiras no trabalho... não fosse o telefonema que receberíamos.
Ela concentrada no trabalho em meio a toda aquela papelada que deveria ser posta em ordem. Ela c/ pensamento no blog que há dias não era atualizado.
A vontade latente de visitar os amigos, projetos a começar, brigas homéricas c/ o espelho, quando soa mais uma telefonema.
Era o amor dela q chamava c/ voz chorosa.
O coração doeu...

Sim, o pai dele estava morto.
Primeiro foi um soco seco no estômago. Depois um vazio...
Não q ela tivesse grandes amores, ou fosse admiradora tenaz do Seu José. Não era. Mas a dor do seu marido a comovia.
Por sorte, ela tinha ficado c/ o carro e assim, pôde pegá-lo no trabalho e levá-lo até a casa de seus pais.
Ele só chorava. Parava e começava de novo. Desse jeito por todo o trajeto.
Lágrimas de dor, de medo, de dúvida, de perda.
Ela... mal teve tempo de avisar à algumas pessas próximas e desmarcar o encontro q teria à noite c/ as amigas. Sairiam p/ dançar. Não mais!
Seu amor, tinha o peito dilacerado. Precisava tanto dela...

Ao chegarem na casa, todos consternados, o corpo jazia na cama.
Tantos prantos, lamentos...
A boca entreaberta, roxeada, os dedos imóveis, olhos cerrados, sem vida. Tudo congelado pelo segundo massacrante.
Tudo naquela cena congelada.
Aí ela se deu conta outra vez, de quão frágeis nós somos.
Num minuto, estamos sorrindo, no outro já não existimos mais. Então prá quê tanta desavença, tanto egoísmo, tanto sentimento mesquinho, se o fim de todos nós, vai ser aquele pedaço de carte inerte em cima de uma cama. Quiçá de uma cama?!

Aí vem aquele monte de gente se solidarizar... muitos daqueles, provavelmente não te davam nem bom dia, quando vc passava apressado p/ o trabalho.
Vc mesmo, nem via ninguém tamanha pressa... e é assim q vivemos. Com pressa, correndo, sem olhar pros lados, com medo...
Prá quê medo? Ela se pergunta. Se o destino de todos nós, mais cedo ou mais tarde, será o retorno a pátria espiritual.

Àquele grande lar, onde todos vão se encontrar irrefutávelmente. Sim é uma certeza.
E quão grande é o despreparo humano p/ esse momento?!
Uns acarinhando o braço gelado do morto, que não estava mais ali. Não é mais ele. Ele se foi. Ali, só jazia a carne.

O corpo expulsando impurezas, que os algodões teimavam em reprimir.
Não. Não existia mais nada!
E as conversas, burburinho e falares de coisas q não vinham ao caso, estando na frente do corpo.
As pessoas não tem consciência do que se passa.
Vinha vizinho, vinham queridos, veio o pastor e sua esposa.
Este? Menos preparado que todos os outros:Porque o cenááário polííítico... dentro do quarto onde jazia o corpo!

Não. Não é assim q se faz.

Não é preciso pranto copioso e desesperado! Gritos de histeria coletiva porcausa de quem já foi, mas silêncio e oração, p/ que o desligamento se processe. O morto quer paz.
O morto não quer saber quem vai ganhar as eleições, mas quer saber de seu atual estado e o q vai acontecer com ele agora.
Só que os vivos ignoram isso completamente. Mas ela não, né?!

E o tempo passando, o entra e sai aumentando, seu marido se tranqüilizando e dando apoio aos demais.
Ele é realmente lindo. Até na dor ele é lindo. Ele é de verdade. Ele é nobre. Às vezes penso que não existe.
Enquanto ela?
Respirava morte e rezava. Ela só constatava...
Que essas verdades inexoravelmente vão acontecer com ela. Com todos.


E hoje, ela está assim.
Lembrando do rosto dele, dos dedos inertes, do cheiro de morte dentro do quarto e não entende.
Não entende como tem tanta vida ao seu redor?
Acha esquisito ter risos, ter vida, ter verde, espelhos... quando do mundo do qual foi expulsa, o cheiro...
... o cheiro ainda é de morte.

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