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sábado, março 02, 2013

PARÁBOLA DA MULHER SUBJUGADA


Estou me recordando de uma história bem bizarra que aconteceu a zilhões de anos atrás, não comigo, graças à Deus,  mas veio afirmar uma teoria que desenvolvi acerca do caráter de certos homens ainda na infância, em comunhão com o temperamento de certas mulheres, que é, o agressor só escolhe aquela que está no papel da vítima.

Ainda adolescente vi amigas de escola que já namoravam, cujo namorado dizia 
"Não vai com essa roupa."
"Não quero que vc vá com essa amiga."
E por aí vai...

Eu não me conformava em ver amigas se sujeitando a isso e me questionava, por quê essees homens não se afinizavam comigo?
Taí o MADA pra te explicar que existe uma relação de co-dependência viciosa entre ambos. O maníaco, precisa de alguém manipulável e a outra, sabe por que razões, sente prazer no papel de vítima. 
Isso tudo é muito cruel e injusto, na minha concepção. 
Às vezes eu fico pensando até que ponto eu sou controladora em querer que todas as pessoas sejam felizes.

Então aquela história antiga, se refere a uma mulher que viveu em cárcere privado por 18 anos tendo três filhos com seu agressor. Tinha uma boa família, era bem tratada, mas se apaixonou num dado momento por um cara altamente manipulador. 
De tipão manipulador, passou a marido, virando agressor e a afastou de todos. E de tudo. 
Vai saber até que ponto ela sentia vergonha de admitir pra família que tinha errado em sua escolha? Fato, é que os filhos vieram, relatos de abuso, surras, estupros e por fim, cárcere privado.
O terror psicológico reinou ali por 18 anos, sem contato dela com a família, apenas aos filhos era concedido o direito de visitar os avós, ainda sim, com hora marcada de retorno, caso contrário, o couro cantava forte em cada um deles. Havia o trabalho forçado também. Ele prestava serviços onde os filhos iam em seu lugar e o dinheiro, claro, sobrava pra ele.

Não vou entrar aqui em mais detalhes dessa história, porque além de ela ser muito sofrida, não me pertence. O ponto aqui, é o medo, a manipulação e suas consequências para todos.
A mãe se sujeitava a todo tipo de castigo com medo de que os filhos sofressem mais ainda. As filhas iam crescendo com o sonho de se livrarem daquele inferno, mas temiam em deixar a mãe sofrendo, ou correndo risco de morte. O filho morria de medo e pouco falava. Crescia uma enorme revolta dentro dele, que mal conseguia lidar. Ninguém tinha dinheiro, muito menos uma saída. Mas eles tinham família. Uma família que ansiava por notícias e pronta para ajudar a qualquer custo e que para o bem de todos, manteve distância.

Felizmente, o medo e período de inércia também passam. Estando ou não o medo presente, chega uma hora em que as pessoas não aguentam mais sofrer e tomam uma atitude para sair daquela situação. E foi o que aconteceu ali. 
Numa situação ideal, a sociedade idealizaria uma mãe fugindo com os filhos para bem longe, num momento de distração do marido agressor. Bem, nesse caso não foi bem assim. Dois dos filhos saíram num momento acalorado de discussão com o pai, enquanto este ia pegar o cinto para mais uma surra, o menino fugiu e conseguiu convencer a irmã. A filha mais velha ficou, para garantir a "integridade" da mãe.
Planejaram a fuga minuciosamente. A família já avisada, se movimentava para recebê-los e acomodá-los, mesmo vivendo com simplicidade. Nada poderia ser pior que aquele inferno. E assim foi feito! Conseguiram escapar de lá, com apoio familiar, direto para a polícia que agiu com mérito e rigor.

O que podemos tirar dessa lição, é que o medo está lá. 
As desculpas para permanecer sob o jugo do agressor eram muitas. Pra onde eu vou? E os meus filhos? Onde vão morar, como vão estudar, como vai ser, como eu vou viver? Tudo isso, assombrava a mente dessa mãe, óbvio. No entanto, aproveitar a oportunidade e apoiar os filhos, foi fundamental. Caso contrário, ela continuaria a definhar nas mãos daquele homem.

Existem milhares de mulheres que vivem com medo. Medo de não dar certo, medo de perecerem, medo de estar levando os filhos para uma situação ainda pior... nada disso justifica viver em sofrimento. 
As subjugadas, encontram um certo alento na inércia e nesse medo que as paralisam. Os agressores muitas vezes se escondem atrás de homens fragilizados e impotentes que fazem delas, sua tábua de salvação, conferindo um poder a mulher, que a faz-se sentir responsável por ele, a ponto de imaginarem sua morte.

Eu sou radicalmente contra o medo, apesar de racionalmente saber q ele está em mim e reconhecer seu poder. Ainda sim, mesmo sendo lentinha, jamais, me deixaria governar por ele. Já tive uma prova disso e a minha saúde esteve em jogo. Não quero repetir esse feito. 
Ainda que a passos lentos, o medo não ajuda. 
É a ação que move o universo.
Saiam do lugar.

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Querida amiga, com o passar dos tempos seus posts ficam melhores. Concordo com vc sobre o medo. Ele faz parte das nossas vidas, mas nao podemos deixa-lo no controle.
beijos

Bia disse...

Nossa, quantos casos já vi como esse na vida real e na clínica! Quando tive oportunidade de trabalhar com as mulheres vítimas de violência, eu preferi trabalhar com as travestis e transexuais profissionais do sexo, barra também, mas né, tem uma lógica, enfim, voltando ao assunto, mesmo não trabalhando diretamente com elas não pude fugir de conhecer todos casos em supervisão, e cara, medo e dependência são fatores de fato muito relevantes para a manutenção da violência, mas eu discordo completamente da sua frase "o agressor só escolhe aquela que está no papel da vítima", vítima já é uma palavra pesada, a expressão "papel de vítima" é uma manada de elefantes em um boing, digo, pra mim, sabe? Existem sim, VÁRIOS motivos pelos quais a mulher permanece nessa situação, e são coisas que podem vim desde sua criação, são nuances das histórias de vida de cada uma. Eu acho que ninguém escolhe apanhar (salvo o pessoal sadômasô), ficar preso, ser estuprado e menos ainda ver seus filhos serem vítimas também de violência, mas eu só acho, né? Acho embasada no que estudei, nos casos que acompanhei e na minha história de vida, posso estar enganada.

Mago disse...

Bem, presenciei isso em minha família, e interferi diversas vezes até que a subjugada tomasse a consciência que só dependia dela para dar o passo definitivo para a liberdade! Hoje, vive e descobriu o que é ser feliz com seus filhos.Ótimo post!

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