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domingo, fevereiro 02, 2014

A SAGA DA ESCOLA PÚBLICA - REPESCAGEM


Ficar para a repescagem da escola pública, me fez desmoronar por dentro. Parece que todo aquele sentimento represado, toda aquela esperança de que os meninos começariam uma etapa nova, mágica, diferente e que seria um marco em suas vidas, foi por água abaixo.

Isso, porque no dia 29 ao tentar fazer a matrícula tanto de Pacotinho, quanto do Sr. Cabeça de Bolinha, apenas de um deles consegui encaixar na escola que queria. Justo Pacotinho... não consegui colocá-lo em nenhuma das escolas que visitamos. Fiquei paralisada por dentro, quando nenhum dos nomes que eu jogava, aparecia na tela do computador. Justo com ele, que já tem uma memória afetiva, lembranças dos amigos e que mais temia a escola nova. O jeito foi escolher uma escola qualquer para ele não perder a vaga e depois, vamos tentar a transferência. 

Ao chegar na escola para efetuar a matrícula, tinha a esperança de ao menos gostar de lá, de sentir alguma empatia. De fato, lá, é relativamente grande, tem uma quadra e empatia... Quer dizer, empatia eu sinto por quase qualquer coisa. Tenho o velho hábito de não julgar as coisas pela capa e tentar ver sempre o lado bom, até me encontrar num beco sem saída e enxergar o que há de ruim. 

Isso nem demorou tanto. Na secretaria, fui atendida por um arquétipo do professor de geografia (com cordãozinho artesanal, brinco na orelha), que se encarregou de fazer a matrícula. O atendimento easy going e nada burocrático da escola, me fez gostar bastante, só que a sinceridade de que a escola está com uma pontuação no IDEB próxima da localização do inferno, me fez desencantar e pensar que Pacotinho não ficará lá por muito tempo.

Feito isso, fui na antiga escola solicitar o histórico escolar e encontrei a coordenadora de lá, que ainda não sabia da saída de Pacotinho. Com tudo resolvido tão em cima, esquemos mesmo de contar a ela, já que centralizávamos o pagamento das duas escolas, na dos menores. Então conversamos e ela ficou emocionada pela saída de um querido aluno. A emoção dela, me fez ter um daqueles mini flashbacks sobre a história de vida do meu filho naquela escola, dos passeios e amigos que ele fez, das vezes em que fui buscá-lo em todas as séries que cursou, o quanto ele era querido e compreendido... Daí os olhos marejaram e eu voltei pra casa chorando pelo caminho, pensando no por quê tudo tinha de ser tão difícil. 

Muita gente diz que eu sou corajosa por fazer uma mudança tão grande na vida familiar em busca dos meus sonhos. Ninguém imagina o quanto é difícil. Primeiro, porque foi mais necessidade que uma busca. Ficar aonde estava, fadada a estagnação não estava resolvendo as nossas vidas. Segundo, que existe algo chamado "O tempo de Deus", que claro, não bate com o nosso. Ele é lapidado dia a dia, conforme nosso merecimento, esforço e trabalho. A outra, é que antes da guinada profissional, vem o fundo do poço. Há que se ter paciência e perseverança, que no papel combina bem, já na prática dói na alma!

Ao convencer marido desta empreitada, lembro que falei que em 6 meses estaria empregada, mesmo que no Mc Donald's. No entanto, você começa a estudar e sente uma enorme vontade de exercer a profissão, de não abandonar seu grupo e de nunca mais em sua vida, voltar a ficar fora de seu nicho. Nem tanto pelo esforço da caminhada, mas pelo sentimento de pertencimento. 

Acho que existe uma grande diferença, quando você escolhe fazer uma faculdade aleatoriamente, visando ser alguém formado, numa cadeira a qual nunca vai exercer, então você vai pro mercado de trabalho e tanto faz, como tanto fez qual nicho, tchurma ou galera você convive diariamente, porque seu objetivo, que é ter um diploma, já foi cumprido. Diferentemente de quando se tem um sonho, ou um dom desde pequeno e está fora do seu mundo, trabalhando em outra coisa. Uma vez realizando seu sonho, a sensação de pertencimento é tão grande, que não dá pra ir pro Mc Donald's viver tudo aquilo novamente, ainda que temporário. Eu pensava que enquanto estaria trabalhando em qualquer outra coisa, automaticamente fechava meu caminho para aquilo que queria, então toda vez que mandava currículo, era em busca de estágio na minha área. 

Seguir essa linha de raciocínio não é nada fácil. Talvez aí entre o fator coragem, no entanto, a culpa é cúmplice. Ela martela todos os seus fracassos dia após dia e o episódio da escola pública é um deles. 

Pacotinho me disse uma frase outro dia, quando eu teimava em repetir o meu mantra:

EU - Filho, tenha fé, as coisas vão melhorar esse ano!
PACOTINHO - Mãe, você disse exatamente isso ano passado e até agora...

Melhorar pra quem? Essa é a grande questão. 
Eu creio de fato que vai melhorar e vai. Ano passado, tiveram muito boas coisas. Ano passado, plantei muita coisa, plantei exercício, roteirização, conhecimento, entrevistas, edição... esse ano chegou a hora da colheita. Estou indo prum estágio afinal e ainda que apertada, com duas crianças em escola pública, tudo vai se ajeitar e essa capacitação é só o início de outras melhores.

Não sem dor, claro. A dor é companheira desse mundo e está aí pra nos ensinar. Há que se chorar quando se tem vontade para expurgar aquilo que aperta o coração. Mas se deixar paralisar não é indicado. Lembra que o universo é movimento? Além do mais, estamos tendo ajuda. Aquela terapeuta maravilhosa que nos ajudou no processo de cura da Psoríase do Sr. Cabeça de Bolinha, agora está ajudando Pacotinho a enfrentar as mudanças com mais segurança. Inclusive, ele está adorando, apesar de só ter ido em uma sessão!

Naquele dia, subi à pé, chorando pela rua, lembrando das coisas boas, achando que a vida nem sempre era justa, mas já tinha um plano traçado na mente. Mesmo chorando e morrendo por dentro, as aulas vão iniciar e nós vamos procurar as escolas que gostamos. Aquela fé que me move, vai comigo dentro da bolsa e será retirada no minuto em que pisar numa das escolas. Quero meu filho numa das boas, porque ele é bom e merece estudar num lugar que o alavanque, que extraia o melhor que há dentro dele e eu vou conseguir.
É assim que vai ser.

2 comentários:

Yvonne disse...

Você vai se dar bem no estágio, como também na sua vida profissional. Essa fase que a sua família está vivendo é apenas uma adaptação do que está por vir. Ninguém cresce sem sofrer. Está dolorido agora, até demais, mas vai melhorar, esteja certa disso. Você não imagina o quanto eu torço por você e essa torcida é porque eu sei que vai dar certo. Não quero ser pretensiosa, mas EU SEI QUE VOCÊ VAI DAR CERTO. Beijos minha linda.

Amanda Schuler disse...

Tudo que se refere à escolas envolve sempre uma burocracia imensa. Alias, me diz o que é fácil nesse país, hein?
Mas quero te dizer que estou torcendo para que dê tudo certo pra ti! Ainda mais nesse início de ano!
Beijão

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